As montras das pastelarias, os anúncios da TV e das redes sociais enchem-se de iguarias e imagens que nos lembram que chegou a Páscoa, tempo de amêndoas e folares, preparados conforme a cultura de cada região, mas sempre com o maior empenho e amor das mãos de quem os faz.
E são exatamente os folares que me transportam a tempos idos, em que a casa se enchia do aroma maravilhoso dos bolos acabados de sair do forno de lenha em que eram cozidos, e que era utilizado, na nossa casa e salvo raras exceções, uma única vez por ano, para cozer os melhores folares do mundo, feitos pelas mãos dos mais velhos, supervisionados pela minha querida mãe.
A festa começava no dia em que se comprava a farinha, os ovos, o leite e a manteiga, e culminava no dia em que finalmente o forno cumpria o seu objetivo, e de onde saíam aqueles bolos de aroma e sabor inconfundível, que me parece misturavam os ingredientes com alegria, amor e felicidade. Revejo-me à volta da minha mãe, a querer ajudar, com um lenço a cobrir-me o cabelo encaracolado, não fosse cair algum no alguidar, coberta de farinha, com as mãos cheias de massa, mas a sentir-me imensamente feliz pela participação na tarefa supostamente reservada a quem sabia da matéria.
A casa, a partir desse dia, tinha um cheiro diferente e que se intensificava a cada dia que passava e até que já não restasse nenhum folar para saborear.
Sinto o aroma fantástico, que fazia com que não resistíssemos a comer ainda quente e apesar dos avisos da mãe de que nos “faria mal à barriga”, o bolo pequenino que, com a maior ternura, era feito para cada um dos mais pequenos. Nunca cheguei a saber se estaria mesmo convencida disso, ou se seria uma mera tentativa de não violarmos precocemente o produto do seu trabalho, que se destinava não só à família, como também a ofertar a quem, ela e o meu pai, entendiam merecedores de tal, como agradecimento de uma qualquer atenção que tivessem tido para com a nossa família. Para estes eram reservados os “mais bonitos ”, como dizia ela.
Recordo especialmente o momento em que saiam do forno e eram barrados com manteiga, fazendo com que brilhassem como um espelho ao sol, e houvesse uma explosão de mistura de aromas inebriantes.
Lembro-me do encanto que sentia ao olhar para a mesa da casa de jantar, cheia dos melhores folares do mundo, cobertos com uma das toalhas que também se mantinha reservada para estas ocasiões especiais.
- “Mãe, os nossos são melhores do que todos os outros”, dizia eu à minha mãe, e os olhos dela sorriam e respondia, “sabes, é que os nossos levam mais manteiga e açúcar do que os outros”. Com esta resposta sentia que éramos especiais, que a nossa casa era especial, que acima de tudo a minha mãe era especial.
Claro que aliada a esta iguaria eram preparadas outras receitas cheias de sabor para o nosso almoço do dia de Páscoa, mas o que procuro incessantemente, em vão, é o inconfundível sabor e aroma do maravilhoso folar da minha mãe. Por mais que procure não o encontro. Seria mesmo só a receita? Provavelmente não. A verdade é que mesmo agora, ao terminar este texto, quase me sinto a salivar, e o cheiro que povoa a minha imaginação é exatamente aquele que fazia as minhas delícias e me tornava a criança/ adolescente mais feliz do mundo.
Para todos uma santa Páscoa.
Ana Toste
Este texto fez-me regressar a minha infância onde também na casa dos meus avós se fazia folares, pão de lo, bola de carne, envolvendo a casa num aroma qye vinha até a rua!! Também salivei ao recordar… bem haja!!!
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