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UMA VIAGEM DE COMBOIO

MERCEDES?

Mercedes?

No café em Lisboa, vejo uma senhora já com a sua idade que provavelmente se chama Mercedes, a tratar das cartas que lhe chegaram a casa ou não. 

Ao mesmo tempo fuma um cigarro que colocou delicadamente no cinzeiro enquanto organiza as cartas, quiçá mais contas para pagar, outro corte na reforma. Talvez sejam as cartas de um neto emigrado a mandar beijinhos com carinho para não usar o WhatsApp.

Acabou de arrumá-las e voltou a pegar no seu cigarro, marca Rothmans.

Fuma-o e pensa.

Será que pensa nas cartas? No calor que está? No tabaco que está caro?

Ou estará a fazer uma retrospetiva da sua vida?

Que Lisboa não é a mesma que conheceu;

A pensar no seu primeiro amor;

No sua avó, no seu avô; 

no primeiro gira discos que comprou e que pagou 40 contos?

no seu primeiro cigarro?

Dá um gole na sua água e acende outro cigarro Rothmans.

Estou numa mesa a menos de 3 metros desta senhora que não passa de uma suposição minha que se chama Mercedes.

Será feliz?

Devo admitir que tem muita classe a fumar os seus cigarros.

Acho que até agora, é a única coisa visível que temos em comum… e mesmo assim a marca dos cigarros não é a mesma.

Será que o nome dela é mesmo Mercedes?

Vou perguntar!

Não, não vou.

Até fica mal…

Será que se chama Maria e é do Porto?

Maria Liberdade


Comentários

  1. Há olhar e ver. Faz toda a diferença ❤️ Obrigada pelo seu texto. Parece que estive nessa esplanada consigo.😌

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