Avançar para o conteúdo principal

RESULTADO DUMA QUEDA... PARAGEM FORÇADA E OBRIGADA

EU E OS MEUS TÉNIS PARA QUASE TODAS AS OCASIÕES

 

Preciso de uns ténis para todas as ocasiões, ou quase todas, é um pensamento que me ocorre, especialmente quando, por não os ter, tenho de usar sapatos de salto, que me fazem sofrer horrores nas ocasiões que a isso obrigam.

Tenho ténis de várias formas e cores, mas faltam-me os tais. Aqueles que vês nas páginas de publicidade das revistas de moda, e que pensas que, um dia, se puderes, os vais comprar.

É então que na minha última viagem a Lisboa, passo por uma sapataria, e vejo em destaque, exatamente os ténis com que venho a sonhar desde há muito. Paro de imediato, e procuro ler o preço que está num talão muito pequenino, como que meio envergonhado, junto do artigo pelo qual já me apaixonei. Por este preço nem pensar, só se estivesse doida, penso eu, e sigo em frente, apesar de a algum custo.

Nos dias seguintes e porque o trajeto me faz passar diariamente pela mesma sapataria, vou vendo que eles continuam no mesmo sítio. Lindos de morrer… penso eu todos os dias. Mas, por aquele preço, nem pensar…

Já no final da semana dou conta que estão com 20% de desconto. UAU, apesar de ainda ser um valor alto, já está mais acessível à minha bolsa.

Entro na loja, e sou atendida pela menina que me tem visto todos os dias a “namorar” a montra. Presenteia-me com o maior dos sorrisos, e traz-me os ténis para que os calce e perceba como são maravilhosos, diz ela. 

Não há dúvida, são exatamente o que queria. São mesmo os tais que darão para usar com as calças de fato, as skin e as pantalonas, o vestido bege, o verde e o azul, e ainda o branco e aquele outro de cor indefinida. Procuro ainda mais razões para me convencer da utilidade da compra que irei fazer, embora a decisão já esteja tomada. É então que a menina me pergunta se tenho o produto específico para os limpar. Respondo que não, e percebo que fará sentido comprar. Pergunta-me se tenho as palmilhas especiais para usar quando tiver os pés mais cansados, e como não tenho, ela prontamente as entrega para que as uses e veja a diferença. Mais um artigo para o saco. Tem as mini meias para usar nesta altura do ano? Como também não tenho, lá vão mais estas para o saco.

De repente, um “clique” faz-me perceber que é urgente sair da loja, pagar e sair imediatamente dali e para longe da menina que me atende com uma excelência incapaz de resistir …

Pergunto quanto devo e a resposta quase me faz parar o coração. Ultrapassa bastante o valor inicial dos ténis, ou seja, eu, que inicialmente me recusei a comprar os ténis, porque o seu preço ultrapassava aquilo que considero aceitável pagar por uns “sapatos”, acabo por gastar muito mais, porque me deixei levar pelo atendimento de excelência da simpática menina da loja. 

Regresso a “casa” lembrando-me de uma situação idêntica, passada com uns amigos, há alguns anos, em que ambos foram a um cabeleireiro, e depois de um, que já conhecia o salão, ter prevenido o outro para não se deixar levar pelas “ofertas” normalmente disponíveis para complemento do corte, é ele que, no fim, paga muito mais, porque fez exatamente o contrário do que aconselhou o amigo a fazer. Não resisti, dizia ele, quando falávamos no assunto e nos riamos com o sucedido.  Agora fui eu, eu que fui dizendo sim a tudo…  Só me resta, portanto, rir de mim própria. 

Servir-me-á de lição? Espero que sim, mas só o tempo o dirá. Por agora resta-me desfrutar dos meus ténis para quase todas as ocasiões, e fazer votos para que o atendimento de excelência da menina da loja seja percebido e compensado por quem lhe paga o vencimento. 

Desfrutem das vossas férias, e caso vejam numa montra algum artigo com que sonham, antes de entrarem na loja pensem em mim e nos meus ténis para quase todas as ocasiões.

Fiquem bem.

Ana Toste


Comentários

  1. Este “filme” assisti em ditecto, á primeira parte, aquela da pré-consulta, com esperança que ao ter o produto na mão pudesse haver desistência o que não aconteceu. Contudo e apesar de se falar em dinheiro há coisas materiais que não tem só preço tem também valor. Por estes dias temos alguém mais (saudavelmente) vaidosa e confortável. Ajuda um pouquinho na auto estima e aqui não há preço. 😘

    ResponderEliminar
  2. Estou mesmo a imaginar-te nessa situação 🤣 coração mole, é o que é 😁
    Eu também comprei uns ténis para todas as ocasiões há 2 anos, na Primark. Custaram 10€ porque eram o número 41 e este número estava com um desconto espetacular. “Mãe, mas tu calças o 39…” confirmou a minha filha, ainda com alguma dúvida. “Não faz mal. Por este preço, agora calço o 41”. Os ténis continuam no ativo e no ano passado foram os que safaram os meus pés na romaria 😂

    ResponderEliminar
  3. Emoção atrás de emoção ao ler o teu texto. Só mesmo tu! Obrigada Ana!!!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

QUANDO PERCEBES QUE NÃO HÁ VOLTA A DAR

 “A Sra. é tal e qual a minha avozinha. Ela não sai de casa sem os seus adereços. É uma querida, mas muito vaidosa”. É com esta frase que uma jovem técnica me presenteia, enquanto aguarda que eu conclua a tarefa desesperada de tirar os brincos e o colar, cujo fecho teima em não abrir. Eu, a paciente que irá fazer uma radiografia dentária. Ela, a técnica que a fará. Eu, uma mulher madura de 66 anos, convencida, até àquela hora, que em nada os aparentava. Ela uma jovem radiante nos seus 20 e poucos anos de idade. Avozinha? Eu, avozinha e mais ainda, vaidosa…   Reparem que não me comparou à sua avó. Fê-lo em relação à sua avozinha, o que para mim corresponde a bisavó.  Não faço qualquer comentário, mas lembro-me imediatamente do que brinquei com a minha amiga Fernanda, mais velha que eu 3 anos, quando me contou que, após completar os 65 anos de idade, tinha ido comprar o passe mensal para o comboio, e ao querer entregar o cartão de cidadão ao funcionário que a atendia, para que fizesse pr

MERCEDES?

Mercedes? No café em Lisboa, vejo uma senhora já com a sua idade que provavelmente se chama Mercedes, a tratar das cartas que lhe chegaram a casa ou não.  Ao mesmo tempo fuma um cigarro que colocou delicadamente no cinzeiro enquanto organiza as cartas, quiçá mais contas para pagar, outro corte na reforma. Talvez sejam as cartas de um neto emigrado a mandar beijinhos com carinho para não usar o WhatsApp. Acabou de arrumá-las e voltou a pegar no seu cigarro, marca Rothmans. Fuma-o e pensa. Será que pensa nas cartas? No calor que está? No tabaco que está caro? Ou estará a fazer uma retrospetiva da sua vida? Que Lisboa não é a mesma que conheceu; A pensar no seu primeiro amor; No sua avó, no seu avô;  no primeiro gira discos que comprou e que pagou 40 contos? no seu primeiro cigarro? Dá um gole na sua água e acende outro cigarro Rothmans. Estou numa mesa a menos de 3 metros desta senhora que não passa de uma suposição minha que se chama Mercedes. Será feliz? Devo admitir que tem muita clas