“A Sra. é tal e qual a minha avozinha. Ela não sai de casa sem os seus adereços. É uma querida, mas muito vaidosa”.
É com esta frase que uma jovem técnica me presenteia, enquanto aguarda que eu conclua a tarefa desesperada de tirar os brincos e o colar, cujo fecho teima em não abrir.
Eu, a paciente que irá fazer uma radiografia dentária. Ela, a técnica que a fará. Eu, uma mulher madura de 66 anos, convencida, até àquela hora, que em nada os aparentava. Ela uma jovem radiante nos seus 20 e poucos anos de idade.
Avozinha? Eu, avozinha e mais ainda, vaidosa…
Reparem que não me comparou à sua avó. Fê-lo em relação à sua avozinha, o que para mim corresponde a bisavó.
Não faço qualquer comentário, mas lembro-me imediatamente do que brinquei com a minha amiga Fernanda, mais velha que eu 3 anos, quando me contou que, após completar os 65 anos de idade, tinha ido comprar o passe mensal para o comboio, e ao querer entregar o cartão de cidadão ao funcionário que a atendia, para que fizesse prova da idade e considerasse o respetivo desconto, este prontamente lhe disse que não era necessário, dando-lhe a entender que provavelmente as rugas do seu rosto eram a evidência que necessitava. A forma como me contou e porque é sempre muito bem disposta, fez com que tivéssemos feito deste episódio uma verdadeira comédia.
Agora tinha chegado a minha vez…
E é assim que, depois de ter saído de casa manhã cedo, vestindo o casaco que tinha comprado no dia anterior e que me assentava na perfeição, dando-me aquele aspeto glamoroso de que tanto gosto (pensava eu), e usando os adereços que dão o mote a este episódio, regresso a casa, usando o mesmo casaco, os mesmos brincos e o mesmo colar, mas no papel de avozinha, uma avozinha vaidosa, mas que nada terá a ver com a mulher glamorosa que pensava ainda poder ser.
Nesse mesmo dia encontro-me com a minha amiga e conto-lhe o episódio da manhã. Após a risada inicial, concluímos que não havia, não há mesmo volta a dar. Os nossos rostos mostram exatamente a nossa idade, e quando alguém nos diz que assim não é, ou mente descaradamente, ou di-lo por compaixão, ou então necessita mesmo mudar de óculos.
Recordo-me então de um conceito que aprendi em tempos, e que ensina que estarmos atentos aos sinais vindos dos outros, em relação à forma como nos vêm, é fundamental para o nosso auto - conhecimento. A verdade é que a grande maioria de nós tem uma ideia de si próprio que não corresponde à realidade, e estes episódios são disso a mais pura das evidências. A seu tempo contar-vos-ei outros que mostram também isto que vos digo.
Para terminar e em jeito de brincadeira, direi a frase que norteia a minha vida sempre que confrontada com situações que não posso mudar: Ana Maria, aceita, aceita que dói menos…
Tenham uma boa semana.
Ana Toste
Muito, mas muiiiiito bom. Já enfrentei situações semelhantes e, de cada vez, me doía mais.
ResponderEliminarTens razão: "aceita que dói menos."
Dei umas gargalhadas a ler este texto.
Venham mais.
Estou mesmo a ver a tua cara! Tens que ir a S. Miguel para te chamarem MENINA. Adorei o texto e ainda me diverti só de pensar na avozinha.
ResponderEliminarFica feio dizer que estou “mijada de rir”? Não deve ficar porque se é para seguir o texto a minha realidade neste preciso momento é esta 😅😂🤦♀️
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