Quando o Sr. António entrou naquele dia, na Porta Solidária, trazia o sorriso de sempre. É aquele sorriso que deixa os olhos estreitinhos por mexer com o rosto todo. Pousou o antebraço sobre o balcão e inclinou-se ligeiramente para o nosso lado. A mão estava em posição de cumprimento e aproveitei a deixa agarrando-a primeiro com uma, depois com as duas mãos... "está bom, Sr. António?”. Outro sorriso “vai-se andando”. A mão livre coloca um pacotinho morno nas minhas. “O que é isto?”. Dá um jeitinho à cabeça como que a dizer “abra”, sempre com um sorriso rasgado. Desenrolei uma pontinha do pacote de jornal, e o cheiro foi inconfundível “são castanhas!”. Afastou as mãos. Estava entregue. Perante o que suponho ter sido o meu ar de espanto, esclareceu dando-me um toque por baixo do queixo como se faz às crianças “são para vocês, por serem sempre tão boas para mim”. Não chorei. Não sei como, porque senti que se enchiam de água… “Obrigada, Sr. António”. E lá foi para a mesa, a fazer a
O que já é hábito não causa surpresa... Curioso??