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Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2021

MERCEDES?

Dar TEMPO e receber TUDO

  Quando o Sr. António entrou naquele dia, na Porta Solidária, trazia o sorriso de sempre. É aquele sorriso que deixa os olhos estreitinhos por mexer com o rosto todo. Pousou o antebraço sobre o balcão e inclinou-se ligeiramente para o nosso lado. A mão estava em posição de cumprimento e aproveitei a deixa agarrando-a primeiro com uma, depois com as duas mãos... "está bom, Sr. António?”.  Outro sorriso “vai-se andando”. A mão livre coloca um pacotinho morno nas minhas. “O que é isto?”. Dá um jeitinho à cabeça como que a dizer “abra”, sempre com um sorriso rasgado. Desenrolei uma pontinha do pacote de jornal, e o cheiro foi inconfundível “são castanhas!”. Afastou as mãos. Estava entregue. Perante o que suponho ter sido o meu ar de espanto, esclareceu dando-me um toque por baixo do queixo como se faz às crianças “são para vocês, por serem sempre tão boas para mim”. Não chorei. Não sei como, porque senti que se enchiam de água… “Obrigada, Sr. António”. E lá foi para a mesa, a fazer a

ALMOÇOS DE DOMINGO

  Quando falamos em almoços de domingo, pensamos logo naquele momento em família que se repete a cada semana, mas a cada domingo é tudo diferente! A comida, as conversas, as reflexões, os momentos.  Pensamos logo naquele cozinhado que demorou mais tempo a fazer porque não íamos trabalhar de seguida ou, até mesmo nos abraços sentidos que são dados pela nossa mãe ou avó. São dias tipicamente familiares e tipicamente portugueses!  Ao longo dos anos fui aprendendo e interiorizando que domingo é o dia da família, dia de abraços sentidos e, que inexplicáveis que são! Na verdade, estes “dias da família” são como um baú de histórias que quando abrimos nos permitem recordar, reviver e sobretudo sentir o derramar de amor em cada partilha.  Atrevia-me a dizer que estes dias poderiam muito bem chamar-se, “que ricos domingos!” Estes são aqueles dias que nos enriquecem de tal forma que renovam as nossas energias para mais uma semana que normalmente são dias de trabalho para todos nós. Na verdade a m

O COMPORTAMENTO NAS PASSADEIRAS

A forma como atravessamos as passadeiras dão seguramente muitas informações a nosso respeito. Ultimamente tenho-me dedicado a apreciar o modo como as pessoas atravessam as passadeiras. Há estilos e estilos, acreditem. Há peões que ignoram que as regras de trânsito também se aplicam a eles e que o objectivo principal da existência das mesmas, é garantir a segurança das pessoas. Alguns parecem ignorar que as suas infracções podem resultar em multas, embora, todos saibamos que as coimas, muito raramente são aplicadas. Pessoas que atravessam com o semáforo encarnado para peões: Geralmente fazem a travessia duma forma rápida e em alguns casos, vão “toureando” as viaturas que se encontram a passar; Pessoas que aguardam a abertura do sinal verde para atravessar : Habitualmente a maioria das pessoas, atravessa sem hesitações e segue o seu caminho à mesma velocidade. Em passadeiras, sem sinalização luminosa, há pessoas que : Atravessam de forma repentina, sem o mínimo cuidado: Chegam à passadei

FUI CUIDADORA (parte II)

Passaram mais alguns anos.  A irmã dela e, portanto, do meu pai, adoeceu com gravíssimos problemas de coração. Era viúva e não tinha filhos. Quem tratava dela? Eu. Veio viver para minha casa, tinha medo de ficar em casa dela sozinha e ninguém a poder socorrer. Já a viver comigo teve um AVC ligeiro. Foi internada. Descobriram por acaso que ela tinha um tumor num peito. Foi operada. Era maligno. Entretanto teve um segundo AVC. Foi internada. Faleceu pouco tempo depois.  Restava o meu pai. Estas duas irmãs e os outros irmãos já tinham todos falecido.  O meu pai tinha tido um ligeiro AVC há alguns anos mas estava relativamente bem.  Só que entretanto detectou-se um linfoma. Foi tudo muito rápido. O meu pai também vivia comigo. Em casa tentamos tudo mas teve de ser internado. Esteve bastante tempo no hospital de São João e saiu de lá directamente para uma unidade de cuidados continuados onde veio a falecer.  O intervalo entre cada um  destes quatro falecimentos foi de cerca de dois anos. Ex

AS MINHAS BODAS DE ALABASTRO

Comemorar 46 anos de vida em comum (bodas de alabastro), dá muito que pensar, e as recordações que são muitas, transportam-me para o dia 26 de julho de 1975, dia do  meu casamento no ano em que vivíamos o entusiasmo da revolução de abril. Revejo uma jovenzinha a transpor a porta da igreja, pelo braço do pai, sorriso nervoso, o coração a transbordar de amor, e uma  vontade imensa de que todos testemunhem a felicidade que sente. No altar aguarda-a outro jovem,  cheio de confiança de que a partir daquele dia, juntos, concretizarão tudo o que idealizaram nos dois anos de namoro. Dúvidas? Nenhumas! Certezas? Todas, já que a inocência própria da juventude (digo eu agora), fazia com que nem por um segundo duvidassem das suas capacidades, ou não estivéssemos, para além de tudo, a viver o tempo de uma revolução, que nos fazia especiais, nos fazia querer cortar com amarras, com tradições e com quase tudo o que até ali era feito sem quaisquer objeções. Contestar era a palavra-chave. Lembro-me do