Hoje estou melhor ligeiramente. Ontem foi um dia para esquecer, tal a neura que se instalou em mim. Realmente a COVID-19 está a dar cabo de nós em todos os sentidos. Não é só de quem está infectado. Não é só de quem está a sofrer ou virá a sofrer com a crise económica que nos vai massacrar. Quem está de boa saúde, mas fechado em casa sofre também. Pessoalmente sou uma pessoa muito "vadia". Quer dizer, não consigo estar fechada em casa durante muito tempo. Tenho necessidade de sair nem que seja para ir à esquina tomar um café. Tenho os meus rituais diários que agora estão suspensos e que, por via dessa suspensão, não consigo concretizar. Não tenho grandes vícios consumistas. Para mim basta uma ida ao café para ler o jornal e tomar um café. Sempre se conversa com a proprietária do estabelecimento ou com alguém que se encontre na rua. E repito esta ida ao café pelo menos três vezes por dia. E também há uma ida à mercearia ou ao talho. Ou à cabeleireira arranjar o cabelo, sim porque isso também levanta o ânimo.
É evidente que posso ir à mercearia, ao talho ou à peixaria. Estão a funcionar. Mas o medo existe - além do meu dever de cumprir as ordens de não sair de casa excepto para o estritamente necessário - e leva-me a refrear a tentação de sair. Quando muito, e é só o que realmente tenho coragem para fazer, de manhã muito, muito cedo - se calhar no meu subconsciente penso que a essa hora o vírus estará a dormir e não me verá - saio para ir a um pão-quente ao fundo da rua, comprar pão e tomar um café e a seguir ao quiosque comprar o jornal. E volto, ligeira, para casa onde permaneço até à manhã do dia seguinte.
Quando entro em casa, após o ritual de deixar os sapatos no cantinho do hall e da lavagem das mãos, digo para mim própria: Já está! Já fui e já vim e "ele" não me apanhou! (Espero eu). Respiro de alívio.
Só que, com o passar das horas, o meu stress acumula, a minha boa disposição vira má disposição. Não falo. Fico muito recolhida em mim própria. Não interajo com os outros e o ambiente fica tenso. A família atura-me bem. Já me conhece e desculpa o meu mau feitio.
Como estarei daqui por algum tempo, não se sabe quanto?
E, como eu, haverá muitas pessoas que também estão afectadas por este isolamento social.
Maldito vírus. Uma coisinha tão pequenininha que nem sequer conseguimos ver a olho nu, e é o inimigo mais poderoso que podíamos imaginar que existisse. Maldito vírus. Fiquem bem e que eu também fique, pois então.
(E.S.)
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