Avançar para o conteúdo principal

RESULTADO DUMA QUEDA... PARAGEM FORÇADA E OBRIGADA

A NOTÍCIA QUE NINGUÉM QUER OUVIR: 1ª ETAPA (continuação)


Finalmente chega a enfermeira e com ela toda a parafernália necessária para se dar início ao tal tratamento de quimioterapia local.
Foste informado dos respetivos procedimentos e pela tua cara pude intuir que estavas muito decidido a levar por diante mais um desafio.
O tratamento começou. O relógio começou também a contar. Era preciso que “aguentasses” duas horas, alternando, as posições corporais, tal como entretanto te foram explicadas.
Cerca de 15 minutos depois, começo a ver que a tua cara está a modificar. Olho-te e vejo que a tua face mostra sofrimento e alguma intolerância.
Tento distrair-te mas, sem sucesso. Procuro que te concentres noutra coisa mas, não consigo mesmo.
Após 40 minutos pedes-me que chames a enfermeira. Assim faço e somos informados que mal termine de apoiar um outro doente, virá ter contigo. Sinto-te muito aflito. Sinto que estás desesperado. Dizes-me que não aguentas mais. Imagino que só não gritas por vergonha.
Uns minutos mais tarde, a enfermeira aparece. Pedes-lhe que te retire um pouco do líquido que tens na bexiga. Dizes que não te sentes bem e que precisas mesmo que ela aceda ao teu pedido. A resposta é bem diferente da que gostaríamos de ouvir:
- “Isso não lhe posso fazer. Ou tiro tudo, ou não tiro nada”!
Eu fiquei pregada ao chão. Não sabia bem o que iria acontecer, nem como irias reagir ao que acabávamos de ouvir. A tua resposta chegou, sem hesitação:
- “Então, se assim é, tire tudo por favor”!
Era a decisão que eu não queria que tivesses tomado mas, imaginei de imediato que tu para decidires desse modo, era porque já não aguentavas mais. Com isto tudo passou cerca de uma hora. Afinal estávamos “relativamente perto” do objetivo (2 horas). Que pena.
Após a retirada do líquido, senti-te mais sereno e tentei ver se conseguias comer alguma coisa. Afinal, antes de tudo isto acontecer, tu, já tinhas alguma vontade de comer. Não, não querias comer nada. Querias descansar. Estavas exausto. Senti que também estavas dececionado por não teres conseguido fazer o tratamento durante as duas horas.
Sinto que precisas de descansar. A exaustão nota-se na tua face.
Adormeces, por breves minutos.

Continua

Comentários

Mensagens populares deste blogue

QUANDO PERCEBES QUE NÃO HÁ VOLTA A DAR

 “A Sra. é tal e qual a minha avozinha. Ela não sai de casa sem os seus adereços. É uma querida, mas muito vaidosa”. É com esta frase que uma jovem técnica me presenteia, enquanto aguarda que eu conclua a tarefa desesperada de tirar os brincos e o colar, cujo fecho teima em não abrir. Eu, a paciente que irá fazer uma radiografia dentária. Ela, a técnica que a fará. Eu, uma mulher madura de 66 anos, convencida, até àquela hora, que em nada os aparentava. Ela uma jovem radiante nos seus 20 e poucos anos de idade. Avozinha? Eu, avozinha e mais ainda, vaidosa…   Reparem que não me comparou à sua avó. Fê-lo em relação à sua avozinha, o que para mim corresponde a bisavó.  Não faço qualquer comentário, mas lembro-me imediatamente do que brinquei com a minha amiga Fernanda, mais velha que eu 3 anos, quando me contou que, após completar os 65 anos de idade, tinha ido comprar o passe mensal para o comboio, e ao querer entregar o cartão de cidadão ao funcionário que a atendia, para que fizesse pr

MERCEDES?

Mercedes? No café em Lisboa, vejo uma senhora já com a sua idade que provavelmente se chama Mercedes, a tratar das cartas que lhe chegaram a casa ou não.  Ao mesmo tempo fuma um cigarro que colocou delicadamente no cinzeiro enquanto organiza as cartas, quiçá mais contas para pagar, outro corte na reforma. Talvez sejam as cartas de um neto emigrado a mandar beijinhos com carinho para não usar o WhatsApp. Acabou de arrumá-las e voltou a pegar no seu cigarro, marca Rothmans. Fuma-o e pensa. Será que pensa nas cartas? No calor que está? No tabaco que está caro? Ou estará a fazer uma retrospetiva da sua vida? Que Lisboa não é a mesma que conheceu; A pensar no seu primeiro amor; No sua avó, no seu avô;  no primeiro gira discos que comprou e que pagou 40 contos? no seu primeiro cigarro? Dá um gole na sua água e acende outro cigarro Rothmans. Estou numa mesa a menos de 3 metros desta senhora que não passa de uma suposição minha que se chama Mercedes. Será feliz? Devo admitir que tem muita clas

EU E OS MEUS TÉNIS PARA QUASE TODAS AS OCASIÕES

  Preciso de uns ténis para todas as ocasiões, ou quase todas, é um pensamento que me ocorre, especialmente quando, por não os ter, tenho de usar sapatos de salto, que me fazem sofrer horrores nas ocasiões que a isso obrigam. Tenho ténis de várias formas e cores, mas faltam-me os tais. Aqueles que vês nas páginas de publicidade das revistas de moda, e que pensas que, um dia, se puderes, os vais comprar. É então que na minha última viagem a Lisboa, passo por uma sapataria, e vejo em destaque, exatamente os ténis com que venho a sonhar desde há muito. Paro de imediato, e procuro ler o preço que está num talão muito pequenino, como que meio envergonhado, junto do artigo pelo qual já me apaixonei. Por este preço nem pensar, só se estivesse doida, penso eu, e sigo em frente, apesar de a algum custo. Nos dias seguintes e porque o trajeto me faz passar diariamente pela mesma sapataria, vou vendo que eles continuam no mesmo sítio. Lindos de morrer… penso eu todos os dias. Mas, por aquele preço