Finalmente chega a enfermeira e com ela toda a parafernália necessária
para se dar início ao tal tratamento de quimioterapia local.
Foste informado dos respetivos procedimentos e pela tua cara pude
intuir que estavas muito decidido a levar por diante mais um desafio.
O tratamento começou. O relógio começou também a contar. Era preciso
que “aguentasses” duas horas, alternando, as posições corporais, tal como
entretanto te foram explicadas.
Cerca de 15 minutos depois, começo a ver que a tua cara está a modificar.
Olho-te e vejo que a tua face mostra sofrimento e alguma intolerância.
Tento distrair-te mas, sem sucesso. Procuro que te concentres noutra
coisa mas, não consigo mesmo.
Após 40 minutos pedes-me que chames a enfermeira. Assim faço e somos
informados que mal termine de apoiar um outro doente, virá ter contigo.
Sinto-te muito aflito. Sinto que estás desesperado. Dizes-me que não aguentas
mais. Imagino que só não gritas por vergonha.
Uns minutos mais tarde, a enfermeira aparece. Pedes-lhe que te retire
um pouco do líquido que tens na bexiga. Dizes que não te sentes bem e que
precisas mesmo que ela aceda ao teu pedido. A resposta é bem diferente da que
gostaríamos de ouvir:
- “Isso não lhe posso fazer. Ou tiro tudo, ou não tiro nada”!
Eu fiquei pregada ao chão. Não sabia bem o que iria acontecer, nem como
irias reagir ao que acabávamos de ouvir. A tua resposta chegou, sem hesitação:
- “Então, se assim é, tire tudo por favor”!
Era a decisão que eu não queria que tivesses tomado mas, imaginei de
imediato que tu para decidires desse modo, era porque já não aguentavas mais.
Com isto tudo passou cerca de uma hora. Afinal estávamos “relativamente perto”
do objetivo (2 horas). Que pena.
Após a retirada do líquido, senti-te mais sereno e tentei ver se
conseguias comer alguma coisa. Afinal, antes de tudo isto acontecer, tu, já
tinhas alguma vontade de comer. Não, não querias comer nada. Querias descansar.
Estavas exausto. Senti que também estavas dececionado por não teres conseguido
fazer o tratamento durante as duas horas.
Sinto que precisas de descansar. A exaustão nota-se na tua face.
Adormeces, por breves minutos.
Continua
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