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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2021

UMA VIAGEM DE COMBOIO

Quando o TUDO é NADA

  Parece antagónico pensar que há momentos da nossa vida em que TUDO damos e para os outros, isso representa NADA. Neste momento não estou a referir-me a coisas ou bens materiais. Refiro-me concretamente a sentimentos, acções, disponibilidade, entrega, compromisso. Quando o receber bem, quase se transforma em obrigação… Quando a nossa exaustão não é percetível para os outros que apenas pretendem beneficiar de tudo o que temos e pomos ao seu dispor. Há momentos em que perdemos a força, a nossa energia e vamos momentaneamente abaixo. Temos absoluta noção do que está a passar-se connosco e talvez por isso tenhamos uma absoluta urgência em voltarmos ao ponto de partida onde a energia, a força, o amor estão no seu máximo, prontos para serem distribuídos. Onde estão os sentimentos? Onde está a gratidão, a integridade de certas pessoas que mais não fazem do que sugar-nos e de seguida, ignorar-nos.  Por onde andam os ditos valores pelos quais devemos reger-nos?  Que pena estarmos...

(CON)VIVER COM A DOENÇA

Viver e conviver com uma doença é mau, mas quando esta doença é autoimune, crónica, para toda a vida… é uma convivência difícil de aceitar. Era eu adolescente quando as primeiras dores surgiram. Foram vários os médicos consultados, várias especialidades, muitas infiltrações de cortisona… e ao fim de cinco anos foi-me diagnosticado Espondilite Anquilosante, uma inflamação articular progressiva que provoca dores e rigidez nas articulações e os movimentos ficam limitados. Agudiza-se com o repouso e atenua com a atividade física (que convém ser de baixo impacto). Nem sempre os médicos perceberam as minhas dores. São dores difíceis de definir, que no mesmo dia podiam atingir a região lombar, ou os ombros, ou o peito…. Chegaram a sugerir que podia ser uma doença do foro psicológico. Mas não! A verdade é que o marcador genético HLA-B27 apresentava valores positivos e aliado a outros exames chegaram, finalmente, ao diagnóstico. Mais valia um mau diagnóstico do que não saber o que se passava co...

RENTRÉE

Muito se fala, por esta altura, em “rentrées”… (palavra da moda)… mas não, não vou falar de política. O termo “rentrée” alude-nos a uma retoma, um regresso, o recomeço de um novo ciclo, um novo ano depois da pausa para férias. E estes regressos preparam um novo ano de desafios, projetos, ambições e metas. Para uns a expectativa é grande e voltam com as baterias carregadas, cheios de adrenalina e vontade de que seja este sempre o verdadeiro ano, o ano das realizações e concretizações.  Outros, voltam à rotina e ao sacrifício (umas vezes justificada, outras tantas injustas), só veem o desânimo de ter mais um longo ano pela frente. Que cada um de nós saiba fazer da nossa “rentrée” um verdadeiro início, renovados pelas maravilhas que o período de férias nos possa ter dado (o descanso, as viagens, as visitas de família e amigos, a praia e o sol e o calor, a ausência de horários…), sejam os regressos aos empregos ou à escola, à política ou ao associativismo, às novas épocas desportivas o...

UMA LIÇÃO DE VIDA

  Ana Toste Oito horas da noite. Estou numa das salas do Serviço de Cardiologia do Hospital de Angra do Heroísmo, a acabar de dar o jantar ao meu pai. Deixam-me estar até para além do limite da hora de visitas. Todos os dias me permitem isso. Ouço tossir incessantemente no quarto ao lado, e porque está tudo em silêncio, percebo que alguém se dirige para lá. Sei quem tosse, porque todos os dias vou ao Hospital, àquele Serviço, duas vezes, e conheço quase todos os ocupantes dos outros quartos. Sei, portanto, que o Senhor X, que tosse no quarto ao lado, apresenta um quadro clínico grave. Sei também que, quase diariamente, é visitado por um jovem adulto, que se senta a seu lado na cama, e que, com um ar triste, dedica todo o tempo a dar atenção ao “seu doente”. Presumo que seja seu filho. Acabo a minha tarefa e, embora relutantemente, despeço-me do meu pai e encaminho-me para a saída, com a intenção de ainda parar na sala de enfermagem, para saber se houve alterações no quadro clínico ...