Verdade, fui ao Japão. Verdade, aventurei-me a, depois de 2h30 de viagem para Lisboa, meter-me num outro avião para, durante 7h30, fazer Lisboa-Dubai, e ainda noutro para mais 9h30 até Tóquio. Ainda hoje me pergunto como me aventurei a tal, eu que me arrepio sempre que se fala em viagens de avião. Mas fi-lo e ainda bem!
O Japão nunca foi um país que me despertasse grande interesse, logo uma viagem que, não fosse a minha amiga Manuela, provavelmente não teria feito. Por diversas vezes já lhe agradeci e vou sempre agradecer-lhe ter-me ligado, naquele dia, a dizer-me “… vamos?” Mas, se nada é por acaso, é porque agora é que era a altura certa para a fazer, pois a idade já me permitiu uma plenitude que antes não alcançava.
Já regressei há vários dias e ainda não “aterrei” no meu quotidiano. Continuo, a cada minuto, a visualizar imagens, paisagens, gestos e atitudes que me levam ao que, agora, considero um outro mundo. Um outro mundo em que é notório o respeito pelo outro, nomeadamente pelos idosos, a comunhão e o respeito pela natureza, o cumprimento das regras, e mais, mais, mais… Ou seja, o que em quase tudo contrasta com a minha vivência habitual.
Foram dias de contemplação de cenários de uma beleza indiscritível. Percorrer alamedas ladeadas de cerejeiras em flor, é qualquer coisa de inexplicável. Passear num parque ou jardim, onde cada recanto, cada árvore, cada cascata, é colocada com um objetivo definido, é quase uma aventura que nos obriga a fazer uma viagem de introspeção e catarse.
Sentada, por um desses momentos, num banco de um jardim, assisti a uma chuva de pétalas de cerejeira a caírem e, como que em câmara lenta e se de plumas se tratassem, cobriram o chão, fazendo com que se tornasse rosa e se confundisse com a copa das árvores. Pareceu-me estar a viver um sonho fantástico, e quando “acordei”, olhei para o outro extremo do banco onde estava sentado um outro turista de um outro país qualquer que não o meu, e ele sorria, sorria como eu. Senti que perante tamanha beleza só podia dizer obrigada. Obrigada por um momento provavelmente único na minha vida.
Ao fazer este relato quase sinto o aroma suave do ar e o silêncio, um silêncio impressionante, num parque pejado de gente. Grupos compostos por adultos, crianças e velhos. Sim, velhos, porque não há como adoçar a palavra e eram mesmo isso, velhos, ajudados pelos mais novos, quer a andar quer por si próprios, quer em cadeiras de rodas. Mas, apesar da idade, interagiam com todos e estes com eles, sendo evidente o respeito por eles e a alegria da vivência do passeio. Tudo transmitia serenidade, e nós, turistas que, na generalidade somos barulhentos, perante o que víamos e sentíamos, nem nos atrevíamos a levantar a voz. Magia, só consigo associar momentos daqueles a magia, pura magia.
Conseguem imaginar uma cidade onde vivem milhões de pessoas e onde não se vê um papel no chão, um qualquer resto de um involucro de um fast-food que se tenha comido mesmo a andar? Pois é isso que acontece em qualquer uma das cidades por onde passei, e quando perguntei onde podia deitar um guardanapo de papel que tinha acabado de usar depois de me ter deliciado com um dos gelados maravilhosos que nos tentam por todo o lado, olharam-me com espanto e disseram que não havia. Fazes lixo levas para casa, é a máxima deles. Não sujas o que é publico. Não tens esse direito. E eu, uma mulher com 67 anos, meio envergonhada, arranjei maneira de o guardar na malita que levava, para o deitar no lixo quando chegasse ao hotel, o que obviamente só aconteceu ao fim do dia e quando já tinha a carteira cheia de lixo acumulado daquele dia. Impressionante, mas é verdade, a pura da verdade.
Um dia destes voltarei para vos contar algumas das minhas aventuras e até superações, tal como ter pernoitado no 40.º andar de um hotel, eu, que acima do 8.º já me sinto a desfalecer, e ainda ter andado de teleférico para ir provar os famosos kuro tamago (ovo preto) que, segundo a lenda, prolongam a vida por sete anos. Não podes é comer mais do que um porque isso já dá má sorte. Como cumpri a regra, conto que também a lenda se cumpra, e por isso, um até um dia destes. Até lá fiquem bem.
Ana Toste

Excelente relato da sua ida ao Japão. Visualizei plenamente a sua descrição dos recantos e das cerejeiras em flor. Quase, quase consegui sentir o aroma envolvente. Parabéns pelo excelente texto e gratidão sua partilha. Aguardo a partilha de novas experiências. Beijinhos
ResponderEliminar❤️❤️
ResponderEliminarLinda a tua discrição da tua aventura até ao Japão Ana 🤩 Vou esperar mais partilhas e espero ainda fazer esta viagem. Beijinhos 😘
ResponderEliminarLinda descrição da tua aventura. Obrigada por partilhares connosco estes momentos maravilhosos. Beijinhos grandes
ResponderEliminar