Houve um tempo em que o trabalho ficava no trabalho. O expediente terminava e ninguém esperava uma resposta tua até ao dia seguinte. Hoje, essa fronteira praticamente desapareceu. Com a tecnologia, as redes sociais corporativas e uma cultura de hiperdisponibilidade, muitos de nós vivem num ciclo interminável de notificações, reuniões e prazos apertados. Mas será que isto é sustentável? A obsessão pela produtividade está a roubar-nos a vida pessoal?
E falo por experiência própria. Dou por mim constantemente ligado, mesmo quando já devia ter desligado. Saio do trabalho, mas o trabalho não sai de mim. As mensagens continuam a chegar, os prazos pairam na cabeça, e aquela sensação de que "se calhar podia adiantar qualquer coisa" nunca desaparece completamente. E se calhar tu também te sentes assim.
Seja no escritório, na fábrica, no comércio ou em teletrabalho, a ideia de que temos de estar sempre acessíveis já se tornou normal. No setor dos serviços, por exemplo, os turnos prolongam-se, muitas vezes sem aviso prévio. No comércio e na restauração, os horários mudam de um dia para o outro, tornando quase impossível planear a vida pessoal. E mesmo em trabalhos mais "tradicionais", há sempre aquele e-mail fora de horas ou a mensagem no WhatsApp que "é só uma coisa rápida".
A verdade é que já não interessa se trabalhamos no escritório ou em casa – o trabalho acompanha-nos para todo o lado. E se recusamos estar sempre disponíveis, corremos o risco de ser vistos como pouco empenhados.
Muitas empresas ainda vivem na ilusão de que mais horas de trabalho significam mais produtividade. Mas será mesmo assim? Os estudos dizem o contrário: o cansaço e o stress reduzem a capacidade de concentração, a criatividade e até a eficiência. No fundo, estamos a trabalhar mais… para produzir pior.
E há também um certo orgulho nesta cultura do excesso. "Se queres ter sucesso, tens de te esforçar mais do que os outros", dizem-nos. Mas será que esse esforço tem de significar abdicar de momentos de descanso, lazer e família? Será que viver para trabalhar é realmente um sinal de sucesso?
Alguns países, como França, Portugal e Espanha, já criaram leis para proteger o chamado "direito a desligar", ou seja, para impedir que as empresas exijam respostas fora do horário de trabalho. Mas a verdade é que a legislação, por si só, não chega. A cultura de trabalho tem de mudar.
Por exemplo, quando um gestor envia um e-mail às 22 horas, pode não estar à espera de uma resposta imediata – mas a notificação aparece no telemóvel e a nossa cabeça já fica presa àquilo. E, na dúvida, respondemos logo, só para não parecer que estamos a ignorar. Pequenas coisas como esta alimentam a ideia de que estamos sempre "em serviço", mesmo sem nos darmos conta.
E Se Começássemos a Dizer "Não"?
No fundo, a mudança também depende de nós. Mas sejamos honestos: dizer "não" não é fácil. Queremos mostrar empenho, não queremos perder oportunidades, temos medo de parecer menos dedicados. E assim, aceitamos chamadas ao fim de semana, respondemos a e-mails tarde da noite e deixamos que o trabalho vá ocupando cada vez mais espaço na nossa vida.
A questão é: até quando?
Equilibrar trabalho e vida pessoal não é sinal de preguiça – é uma necessidade básica. Um trabalhador descansado, com tempo para a família, para os amigos e para si próprio, é um trabalhador mais produtivo e mais criativo.
E tu, consegues realmente desligar do trabalho ou, tal como eu, sentes que estás sempre "em serviço"?
TC
Verdade, fui ao Japão. Verdade, aventurei-me a, depois de 2h30 de viagem para Lisboa, meter-me num outro avião para, durante 7h30, fazer Lisboa-Dubai, e ainda noutro para mais 9h30 até Tóquio. Ainda hoje me pergunto como me aventurei a tal, eu que me arrepio sempre que se fala em viagens de avião. Mas fi-lo e ainda bem! O Japão nunca foi um país que me despertasse grande interesse, logo uma viagem que, não fosse a minha amiga Manuela, provavelmente não teria feito. Por diversas vezes já lhe agradeci e vou sempre agradecer-lhe ter-me ligado, naquele dia, a dizer-me “… vamos?” Mas, se nada é por acaso, é porque agora é que era a altura certa para a fazer, pois a idade já me permitiu uma plenitude que antes não alcançava. Já regressei há vários dias e ainda não “aterrei” no meu quotidiano. Continuo, a cada minuto, a visualizar imagens, paisagens, gestos e atitudes que me levam ao que, agora, considero um outro mundo. Um outro mundo em que é notório o respeito pelo outro, nomead...

Estando no mercado de trabalho antes e depois das tecnologias avalia-se bem esta situação da disponibilidade.
ResponderEliminarMuito sinceramente penso que é um abuso de privacidade e cabe a cada um de nós por “travão “ e mudar mentalidades.
Muito obrigado pelo seu comentário! Este é um assunto que merece mais atenção. Realmente, cabe a cada um de nós colocar o "travão" e começar a mudar mentalidades. É um processo importante para que possamos equilibrar melhor a nossa vida pessoal e profissional.
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