Iniciei este novo ano com o “pé esquerdo “: no dia 2 acordei com 40 graus de temperatura, dores no corpo e o nariz completamente entupido.
Como tenho sempre em casa testes COVID, fiz um e deu positivo! Como é?? 4 anos depois, outra vez??
A minha filha ligou de imediato para o SNS24 e fui referenciada para o serviço de urgência do Hospital de São João.
Chegada ao serviço, já estavam a minha espera e logo após terminada a ficha de entrada fui logo chamada à triagem. Devo ter esperado cerca de 15 minutos, não mais.
Triagem feita, fui conduzida à área de atendimento clínico; os gabinetes estavam todos ocupados, exceto um, para onde fui; embora eu estivesse mais nas nuvens que na terra, ainda pensei: tudo em ordem, onde está a crise nas urgências?? Aqui não.
Algum tempo depois começou a minha saga de cerca de 15 horas: tirar sangue para análise, tirará sangue para medir oxigénio, RX pulmonar, mas nada de baixar a febre...
Até aqui tudo normal, com excepção de eu estar em jejum pois não tinha tomado pequeno-almoço.
Neste vai e vem, chega um enfermeiro com um saco de soro com Aspergic, para baixar a febre; é preciso colocar um catéter e o enfermeiro não encontra a minha veia; chega um segundo enfermeiro, tenta picar, nada; volta a tentar o primeiro, terceira picadela, zero; vão-se embora. Então? Desistiram?.. não dizem nada?..
Compasso de espera...
Outro enfermeiro se aproxima, apresenta-se, é o enfermeiro chefe, pica-me o braço e logo à primeira! Bingo! A veia estava lá, afinal!!
E eu penso: foi preciso vir o chefe? E a competência onde estava??
Segue-se um longo período de pausa, com o soro a entrar nas minhas veias, começo a sentir a febre a baixar, mas nada de desentupir o nariz e a minha respiração cada vez mais difícil.
Tento saber se já há respostas sobre o que se passa comigo, mas não há respostas.
Médicos e enfermeiros desgastam o chão do SU com tanto vai para lá e vem para cá, em grupos de dois, três, quatro...e os doentes desesperam-se por não terem respostas, por não saberem o que dizer aos familiares que os esperam fora do serviço, também estes em desespero por falta de notícias.
O tempo continua a passar, a manhã foi embora, a tarde já está quase no fim e o saco do soro também.
Continuo sentada no meu cadeirão e espero...um doente levanta-se e pede um copo de água ao enfermeiro e a resposta é: está ali um lavatório, beba lá!
O doente fica sem reação.
Mas o que é isto??? Ainda bem que não foi comigo, pois já estava a levar resposta!!
Continuo à espera!!! As horas passam, muda o turno dos profissionais e...nada!!
Quase meia-noite, eu sem alimentação, sem água, por respirar pela boca parece que a língua é uma rolha!! E então?? Fazem-me novos testes: CoVID e Gripe, zaragatoa pelo nariz acima..., agora?? Depois destas horas todas??
Quase uma hora da madrugada!! Levanto-me e vou ao balcão dos enfermeiros perguntar pela médica do meu processo; responde-me uma enfermeira mal encarado e com ar importante: olhe aqui, o que diz? Balcão de enfermagem!! Tem que esperar!!
Enervo-me, pergunto-lhe se é assim que se fala educadamente e a criatura ia voltar a respingar mas a colega ao lado pede-me para ir ao balcão dos médicos, do outro lado da sala e perguntar lá.
Atravesso a sala, faço a mesma pergunta, dizem-me o número do gabinete e o nome da médica mas chego lá e...ninguém, vazio!! Onde anda?? Ninguém sabe!!
Pergunto aos dois médicos que estão ao lado e amavelmente começam a ver o meu processo e a cortina abre-se e aparece alguém que deve ter acabado de sair do cabeleireiro e maquilhadora, mais parecendo uma boneca Barbie e numa voz aflautada e arrogante pergunta: é a Sra. Cristina? Estou farta de andar a sua procura!!! Sou a Dra. Rita!! Venha comigo!
Mas o que é isto????
Começa então a escrever no computador, sem me dizer nada, olhando para mim de lado (como eu detesto!!) e eu só penso: respira fundo Cristina!!
Pergunta-me se tenho Ben-u-ron em casa, tenho que tomar durante 5 dias, se não melhorar tenho que lá voltar!!
-Mas afinal, qual é o meu estado de saúde?
-Ah, é uma mistura de COVID com Gripe B!
- e as vacinas não funcionam nestes casos?
- Não sabemos! Pronto pode ir embora.
E sai do gabinete!!
01:30 da manhã; quase 15 horas depois da minha chegada!!
E assim está o nosso serviço nacional de saúde!! E assim estão as nossas urgências...
Não sei que diga mais...mas ainda fica muito por dizer!!
Cristina Pestana

Eu diria que o problema não estará no nosso Serviço de Saúde, mas sim NAS PESSOAS. Sim, nas pessoas, porque são essas que podem fazer a diferença, tratando-nos bem numa organização que pode não estar. Podem fazer toda a diferença, mas não querem, ou no seu caso, não quiseram. Teria sido tão simples fazer com que se tivesse sentido acarinhada, teria sido tão simples fazer com que tivesse sentido confiança em que estava a tratar. Bastava uma frase, bastava um sorriso, uma mão na sua... Felizmente ainda há quem o faz, mas isso não se aprende nas universidades, aprende-se em casa, com os valores que nos transmitem.
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