Dia 1 de agosto de 2024. Como habitualmente saio para a minha caminhada matinal. Está uma manhã linda. O sol brilha e o calor já se faz sentir. O circuito que escolho é, de todos os que conheço, o meu preferido. Tem árvores de um lado e outro e, de quando em vez, surge uma paisagem magnifica, com o mar ao fundo e a costa da ilha que é a minha. Para os que conhecem já perceberam onde estou, para os que não têm esse privilégio, estou no Monte Brasil, uma pequena península, que é um antigo vulcão extinto, que teve origem no mar, e que se juntou à cidade por um istmo que, na grande maioria das vezes, cruzamos sem nos darmos conta da sua existência. Um lugar mágico.
O meu principal objetivo nesse dia, é oferecer a mim própria uma caminhada relaxante, aproveitando ao máximo o que a natureza me oferece naquele lugar de que tanto gosto.
Caminho com a confiança de quem conhece o percurso e, ao descer uma curva, escorrego, caio e, azar dos azares, percebo logo que qualquer coisa de grave aconteceu no meu pé direito. Não me consigo levantar. Por sorte tenho o telemóvel comigo e imediatamente ligo para o meu marido para que venha ajudar-me. Enquanto espero, sentada no chão pois não consigo sair do mesmo sítio, aproxima-se um jovem ciclista que, ao saber que o meu marido vem a caminho, insiste em ficar a fazer-me companhia até que ele chegue e para ajudar no que for necessário, diz ele. Estou eternamente grata a este jovem, a quem ainda não agradeci convenientemente. Fá-lo-ei agora no natal. Ele merece!
Voltando à minha história, chega o meu marido e, os dois, fazem com que entre no jipe que trouxe, de forma a conseguir chegar até mim. O destino é a urgência do hospital.
É a primeira vez, em 66 anos de vida, que isso acontece. Tenho sido uma sortuda, uma privilegiada, pois nunca necessitei de recorrer a este serviço. Há sempre alguém amigo que me socorre em caso de necessidade…
Entro de cadeira de rodas, uma novidade, pois nunca fui conduzida desta forma.
Sou uma mulher grande em formas, mas começo a sentir-me muito pequenina e indefesa, à mercê de todos os que me rodeiam e, apesar da delicadeza e quase direi carinho com que me tratam, não deixo de ser mais uma entre tantos os que lá estão pelas mais variadas razões.
Após a primeira avaliação dizem-me que terei de ser submetida a uma cirurgia ao pé. Depois de todos os exames preparatórios nesse sentido, é decidido que não a farei e que o tratamento ficar-se-á pela tala e gesso, que me cobrem o pé e a perna até ao joelho.
Volto a casa, apoiada em duas “canadianas” e, com a ajuda do meu marido, consigo chegar ao nosso quarto. O trajeto desde a entrada até à cama onde me deito, é uma verdadeira aventura para nós os dois. É nessa altura que me apercebo que durante os próximos dias, não sei quantos, não poderei tratar de mim própria. Eu, a cuidadora por natureza, tenho de admitir que nos próximos tempos, serei, obrigatoriamente, objeto de cuidados por parte dos outros. Uma experiência também nova e para a qual não estou minimamente preparada.
Como me sentirei nos próximos tempos? Terei toda a ajuda que vou necessitar e querer? Como me sentirei em relação aos que de mim cuidarão? Estas são algumas perguntas, cujas respostas constituíram verdadeiras descobertas (ou não) quer acerca de mim, quer acerca dos que me rodearam.
Partilharei convosco essas emoções no meu próximo texto.
Até lá fiquem bem.
Ana Toste

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