Faço parte de uma associação campista, situada na praia da Madalena em Vila Nova de Gaia, onde passo os meus verões há mais de 40 anos.
Foi aqui que de menina passei a mulher, conheci e namorei aquele que veio a ser meu marido, companheiro de vida, pai da minha filha; fiz amigos que ainda hoje fazem parte da minha vida, vi partir os pais deles...
Fomos forçados a deixar o terreno onde a história, por culpa do fim da concessão que explorava o parque de campismo, mas passamos para o terreno contíguo que já fazia parte do espaço e pertence a uma sociedade privada. Aqui estamos há mais de 30 anos formando uma enorme família de cerca de 32 equipamentos campistas (caravanas e tendas).
O espaço envolvente era nas décadas de 70, 80 e 90 do século XX uma imensa mata que desaguava em praias de areia dourada e mar azul; penetrávamos na mata em bicicletas, galgando os trilhos de agulhas de Pinheiro e amoras silvestres que trazíamos nos baldes da praia para as mães fazerem compotas. Eram o nosso lanche, barrando fatias de pão pois não havia a variedade de iguarias que hoje as crianças têm ao dispor, mas também não era importante porque as compotas eram de um sabor a floresta, que não tinha comparação.
Entretanto, entre beijos molhados de namorados e fogueiras na praia, começamos a ver as matas a desaparecerem e, no seu lugar, o cimento rompeu da terra qual toupeira feroz em busca do tão cobiçado provento financeiro.
A cada ano que voltávamos havia mais casas, edifícios, condomínios fechados e nas nossas mentes um pensamento comum: vamos ter que ir embora daqui!!! O bicho papão vai acabar com o nosso cantinho privilegiado e mandar-nos a todos passar o Verão em casa, como a maioria das famílias.
No entanto, o nosso antigo terreno continuava intocável, com o mato a crescer e os balneários a diminuírem com a corrosão dos invernos, qual cemitério índio onde só entram os membros da tribo: nós!!
Este ano de 2024 os nossos corações foram atacados pela lança do futuro: entram máquinas no terreno, desbastam a florestação, colocam uma vedação a toda a volta e dependuram cartazes imobiliários com imagens do futuro: mais um condomínio fechado!! Estamos tramados!!!
Olhamos para lá com o mar nos olhos e vemos o que resta dos balneários...as recordações assolam o pensamento e não queremos acreditar que onde já fomos tão felizes reside agora a nostalgia...
Um de nós, recordando as plantações de ervas aromáticas que os pais faziam no início de cada época balnear, solta em tom juncoso: quando abrirem as torneiras das casas não vai sair água, mas sim coentros e salsa!!!
Que assim seja!!
Cristina Pestana
Que realidade esta!!! Nem sequer imagino o que estarão a sentir. Realmente só quem passa por certas situações é que consegue dar valor.
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