Tenho-me deparado com várias situações que me preocupam e não consigo encontrar respostas.
O comportamento que se vai vendo por aí de algumas crianças que decidi conotá-los de “pequenos tiranos”. Querem, têm. Pedem, têm. Exigem, têm. Mandam e os outros fazem. Não se podem defraudar expectativas. Tem de ser aqui e agora. Já. Não posso esperar para depois.
Quem de vocês, caros leitores, estão neste momento a acenar afirmativamente com a cabeça? E quão desiludidos estarão (ou não) por terem percebido que as vossas crianças estão assim? Bem, tudo tem (terá?) solução. Não creio que seja necessário ser pai/mãe para poder falar deste tema. Não creio igualmente que seja imperativo ser alguém que já tenha as suas crianças crescidas para poder igualmente falar. Como em tudo na vida, as pessoas tratam-nas da forma como permitimos: nas nossas relações familiares, nas nossas relações de intimidade, nas nossas relações profissionais e até quando somos clientes de algum serviço. Ora, pasmem-se! Com as crianças é exatamente da mesma forma que funciona. Quando nascem, poucas vontades têm a não ser alimentação, conforto e necessidade de criação de vinculação segura. Assim que começam a aperceber-se da linguagem verbal e não verbal, começa aí também o estabelecimento de limites impostos pelos seus cuidadores - aqui começa o sarilho. Quando se diz não, é não. Não se pode ceder (pelo menos na 1ª idade que não percebem o motivo do recuo de uma decisão). Quando se diz sim, é sim… e por aí adiante.
O mesmo se passa com os valores. Com o tédio que as crianças não sentem. Com a necessidade de estarem sempre entretidos a fazerem alguma coisa (écrans, na maioria das vezes). Com a necessidade de disputa dos melhores lugares numa competição que começa a ser criada na cabeça dos pais da minha geração. Aqui pergunto: o que se perdeu? A minha geração foi criada por exemplos de cumprimentar à chegada e despedir à saída. De agradecer e de pedir por favor. De respeitar uma fila. De respeitar quem se cruza no nosso caminho. Não vejo por favores, não vejo obrigadas, não vejo cordialidade com o outro. Não vejo respeito para com o outro.
Vejo famílias assoberbadas de tarefas, de atividades, de ocupações e de compromissos. Vejo stress de manhã à noite. Vejo insónias e problemas de peso (relacionados com a vida alucinante e sem parar que se vive). Vejo respostas menos corretas das crianças e pouca ou nenhuma sanção. Vejo pouca conversa entre pessoas à mesa de um restaurante. Vejo equipamentos móveis cada vez mais sofisticados e menos capacidade correlacional entre pessoas. Precisaremos nós de voltar a uma pandemia para que voltemos a cuidar-nos e a cuidar dos nossos? Olhando-os, cuidando-os, respeitando-os e acarinhando-os?
O que se perdeu?
Obrigada
mjsoares
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