Duas árvores no meio de tantas outras |
Desde que tenho percepção da minha vida que estive sempre rodeada de pessoas: família, amigos, colegas de escola, colegas de trabalho...
Em muitas ocasiões sentia até necessidade de estar só; ter algum silêncio, sossego.
Foi então que, em 2021, a maldita pandemia fez de mim viúva e fiquei a viver sozinha.
Tenho uma filha, genro, netos que vivem no mesmo prédio que eu, tenho o meu trabalho, mas a família tem vida própria e á noite ... estou sozinha.
E vem a questão: estou solitária?
Bem, a resposta é...não!
A solidão, na minha óptica, é um estado d’alma. Será um clichê dizer que se pode sentir solidão no meio de uma multidão, mas é uma verdade, porque se a alma sentir solidão, pode estar rodeada de milhares de pessoas que o sentimento é o mesmo.
Estive casada 37 anos, quase 38, com uma pessoa que preenchia a minha alma e o meu coração. Um amor forte, sólido, cúmplice. Uma pessoa com a qual eu sempre idealizei viver até ao meu final, envelhecer em conjunto, continuar a realizar sonhos comuns.
Mas o nosso destino não era esse e a COVID 19 encarregou-se de o interromper.
O meu coração ficou vazio, mas e a alma?? Ah essa não! Nos primeiros meses, sentia pontualmente uma certa solidão, mas cedo me apercebi que continuava a estar habitada pelos sonhos e projetos que ficaram por realizar e aos quais eu tinha que ir dando forma de concretização e assim continuando a sonhar.
O acto de enviuvar numa idade já não muito jovem não tem que ser significado de parar a vida, de isolamento. Pelo contrário, deverá ser o começo de uma nova fase, em que podemos fazer tudo o que não fizemos antes e gostaríamos de ter feito mas que por um ou outro motivo de incompatibilidade deixamos para depois. E o depois tornou-se agora, hoje, dentro de minutos.
Estou nas proximidades da aposentadoria, já falta pouco e o que mais anseio é que tenha saúde e condições de vida que me permitam continuar a realizar os sonhos que me vão na alma.
Incentivo todos e todas que tenham oportunidade de o fazer, que não se retraiam de viver, de sonhar. E sobretudo não se permitam isolar de vós mesmos.
É certo que estou só, mas não dou entrada à solidão...
Cristina Pestana
Testemunho impressionante. Obrigada.
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