Avançar para o conteúdo principal

RESULTADO DUMA QUEDA... PARAGEM FORÇADA E OBRIGADA

MÚSICA COMO ATIVIDADE ESCOLAR

 

Há uns dias tomei conhecimento de algo que me preocupou pelo que revela de inconsciência das dificuldades que todos nós enfrentamos no dia-a-dia.

Uma adolescente de treze anos, aluna da Escola pública de Caminha tem como actividade escolar a música.

No início da actividade os pais foram acompanhando a sua evolução e, algum tempo depois, após se aperceberem que o instrumento musical preferido da filha era o piano, falaram com o professor para se informarem da marca e modelo que deveriam adquirir para uma evolução ainda mais rápida pois assim poderia praticar em casa.

A aquisição do instrumento exigiu um investimento considerável mas, quando se trata dos nossos filhos, fazemos sempre todos os sacrifícios. O piano foi adquirido.

Este ano houve uma alteração do professor da atividade.

A menina, que adora a música, de um momento para o outro passou de entusiasta da música a não querer frequentar as aulas.

A família estranhou e as campainhas de alarme tocaram lá em casa. As notícias que nos chegam todos os dias colocam-nos cada vez mais atentos a todos os comportamentos dos nossos familiares, especialmente das crianças e dos adolescentes.

Inquirida, a adolescente só dizia que já não queria ir. Não dava uma justificação mas nas relações entre os membros de famílias estruturadas e sãs, as respostas às perguntas acabam sempre por surgir. 

O que aconteceu, segundo a versão da menor, passou por uma conversa que a aluna manteve com a nova professora. Disse à professora que já tinha um piano.

A professora ter-lhe-á dito que aquele não tinha qualidade e que ela devia comprar um outro, conforme panfleto publicitário que lhe mostrou. A aluna perguntou-lhe o preço e a professora informou que “à volta de nove mil euros”. 

A aluna tem a noção que esta nova aquisição não é fácil e que o dinheiro custa a ganhar. Esta terá sido uma das razões da aluna não querer voltar às aulas de música. Normalmente as crianças e os adolescentes mais novos merecem o meu crédito. Também sabemos que a empatia muitas vezes conta muito nessas idades.

Quero sublinhar que não conheço a professora, que não procurei falar com a senhora e que todos os professores merecem todo o meu apreço pelas incompreensões e pelas dificuldades de toda a ordem a que estão sujeitos. 

O que acabo de escrever foi o que ouvi da família da aluna. 

Este assunto merece ser esclarecido pelo que pode revelar da ligeireza com que se tomam certas decisões que devem ser muito ponderadas. Por questões como esta muitas vezes desviam-se os adolescentes da sua vocação.

Quanto menos frustração existir na sociedade melhor.

Eduardo Freitas


Comentários

Mensagens populares deste blogue

QUANDO PERCEBES QUE NÃO HÁ VOLTA A DAR

 “A Sra. é tal e qual a minha avozinha. Ela não sai de casa sem os seus adereços. É uma querida, mas muito vaidosa”. É com esta frase que uma jovem técnica me presenteia, enquanto aguarda que eu conclua a tarefa desesperada de tirar os brincos e o colar, cujo fecho teima em não abrir. Eu, a paciente que irá fazer uma radiografia dentária. Ela, a técnica que a fará. Eu, uma mulher madura de 66 anos, convencida, até àquela hora, que em nada os aparentava. Ela uma jovem radiante nos seus 20 e poucos anos de idade. Avozinha? Eu, avozinha e mais ainda, vaidosa…   Reparem que não me comparou à sua avó. Fê-lo em relação à sua avozinha, o que para mim corresponde a bisavó.  Não faço qualquer comentário, mas lembro-me imediatamente do que brinquei com a minha amiga Fernanda, mais velha que eu 3 anos, quando me contou que, após completar os 65 anos de idade, tinha ido comprar o passe mensal para o comboio, e ao querer entregar o cartão de cidadão ao funcionário que a atendia, para que fizesse pr

MERCEDES?

Mercedes? No café em Lisboa, vejo uma senhora já com a sua idade que provavelmente se chama Mercedes, a tratar das cartas que lhe chegaram a casa ou não.  Ao mesmo tempo fuma um cigarro que colocou delicadamente no cinzeiro enquanto organiza as cartas, quiçá mais contas para pagar, outro corte na reforma. Talvez sejam as cartas de um neto emigrado a mandar beijinhos com carinho para não usar o WhatsApp. Acabou de arrumá-las e voltou a pegar no seu cigarro, marca Rothmans. Fuma-o e pensa. Será que pensa nas cartas? No calor que está? No tabaco que está caro? Ou estará a fazer uma retrospetiva da sua vida? Que Lisboa não é a mesma que conheceu; A pensar no seu primeiro amor; No sua avó, no seu avô;  no primeiro gira discos que comprou e que pagou 40 contos? no seu primeiro cigarro? Dá um gole na sua água e acende outro cigarro Rothmans. Estou numa mesa a menos de 3 metros desta senhora que não passa de uma suposição minha que se chama Mercedes. Será feliz? Devo admitir que tem muita clas

EU E OS MEUS TÉNIS PARA QUASE TODAS AS OCASIÕES

  Preciso de uns ténis para todas as ocasiões, ou quase todas, é um pensamento que me ocorre, especialmente quando, por não os ter, tenho de usar sapatos de salto, que me fazem sofrer horrores nas ocasiões que a isso obrigam. Tenho ténis de várias formas e cores, mas faltam-me os tais. Aqueles que vês nas páginas de publicidade das revistas de moda, e que pensas que, um dia, se puderes, os vais comprar. É então que na minha última viagem a Lisboa, passo por uma sapataria, e vejo em destaque, exatamente os ténis com que venho a sonhar desde há muito. Paro de imediato, e procuro ler o preço que está num talão muito pequenino, como que meio envergonhado, junto do artigo pelo qual já me apaixonei. Por este preço nem pensar, só se estivesse doida, penso eu, e sigo em frente, apesar de a algum custo. Nos dias seguintes e porque o trajeto me faz passar diariamente pela mesma sapataria, vou vendo que eles continuam no mesmo sítio. Lindos de morrer… penso eu todos os dias. Mas, por aquele preço