Avançar para o conteúdo principal

INTERRUPÇÃO NÃO PROGRAMADA

SABER SER, SABER ESTAR


 Abro a internet e salta-me à vista um título que desperta a minha curiosidade: “Tiktoker repreendida no Palácio de Versalhes”. Leio o texto, que mais não é do que o relato feito pela mesma, de uma chamada de atenção acerca do traje que usava durante uma visita ao referido Palácio, feita por um dos seguranças locais.

Não vou aqui defender ou contrariar as posições assumidas pelos seus seguidores, pois não é esse o meu objetivo, mas a verdade é que aquele simples relato me fez decidir escrever sobre um tema que me incomoda desde há algum tempo, porque afinal não é assim tão despropositado como inicialmente me possa ter parecido. 

Rara é a semana em que não vejo partilhas de fotos de adolescentes, jovenzinhas, já mulherzinhas, em cerimónias religiosas nas igrejas católicas, nomeadamente da nossa ilha, e em que recebem sacramentos, usando vestidos sem costas e grandes decotes, próprios para tudo, menos para estar numa igreja.

Não sou púdica e considero-me uma mulher atual e atualizada. Quem me conhece sabe disso. No entanto, o ser atual não quer dizer que me deixe influenciar pelo “é moderno, é o que agora se usa”, e por outras frases de vendedoras de lojas que mais não querem do que vender o seu produto, e que fazem com que pais, menos informados, gastem o dinheiro que tanto lhes custa a ganhar, comprando exatamente o que menos se adequa à situação a que se destinam.

Lembro-me de ter participado numa destas cerimónias, e de ter ouvido uma das catequistas, quase a medo, perguntar a duas jovenzinhas que se apresentavam da forma a que acima me referi, se tinham um “casaquinho” para usarem enquanto estivessem na igreja. Não deviam ser as catequistas a terem esta preocupação. Não deviam nem devem ser os padres a chamar a atenção para tal. Não, não e não! Quem tem essa responsabilidade são as mães/ pais. São eles que têm de ter em atenção que as suas filhas não vão a um baile de finalistas, porque se assim fosse, também não vestiriam a roupa que usariam para um simples passeio com amigos. Se assim é, então mais não têm do que usar trajes adequados também a esta situação.

Lembro-me ainda de, há muitos anos, tinha eu iniciado a minha vida profissional há pouco tempo, muito jovem e inexperiente, o meu chefe (com quem vim a trabalhar por mais de 20 anos), com algum constrangimento, mas muito delicadamente, me ter dado a atender que deveria ir mudar de roupa para secretariar determinado evento a que se queria dar toda a dignidade possível. Ainda hoje lhe agradeço tal “puxão de orelhas”, pois esse e outros, ajudaram-me também a tornar na profissional que me orgulho de ser, e na mulher que procura a cada dia que passa aprender sempre mais e mais.

O saber ser e o saber estar aprendem-se. Ninguém nasce a saber tudo. O importante é estar disponível para aprender. Nada mais que isso.

Não espero mudar o mundo, mas se fizer com que uma só família pense melhor no assunto, já terá valido a pena esta minha partilha. 

Uma boa semana para todos.

Ana Toste


Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

A MINHA VIAGEM AO JAPÃO

Verdade, fui ao Japão. Verdade, aventurei-me a, depois de 2h30 de viagem para Lisboa, meter-me num outro avião para, durante 7h30, fazer Lisboa-Dubai, e ainda noutro para mais 9h30 até Tóquio. Ainda hoje me pergunto como me aventurei a tal, eu que me arrepio sempre que se fala em viagens de avião. Mas fi-lo e ainda bem!   O Japão nunca foi um país que me despertasse grande interesse, logo uma viagem que, não fosse a minha amiga Manuela, provavelmente não teria feito. Por diversas vezes já lhe agradeci e vou sempre agradecer-lhe ter-me ligado, naquele dia, a dizer-me “… vamos?” Mas, se nada é por acaso, é porque agora é que era a altura certa para a fazer, pois a idade já me permitiu uma plenitude que antes não alcançava. Já regressei há vários dias e ainda não “aterrei” no meu quotidiano. Continuo, a cada minuto, a visualizar imagens, paisagens, gestos e atitudes que me levam ao que, agora, considero um outro mundo. Um outro mundo em que é notório o respeito pelo outro, nomead...

A ARTE, A BELEZA E A GRATIDÃO

  Sou frequentadora assídua da Confeitaria Paulista na Maia, onde a D. Elvira e o Sr. Jorge Mendes (proprietários), fazem questão de nos receber de “braços abertos.” Tomo o meu café e pão com manteiga neste maravilhoso espaço. É um local muito familiar. Um espaço onde nos sentimos muito bem!!!  Somos bem recebidos; Bem tratados; Bem-vindos!!! Sentimo-nos em casa. A D. Elvira faz questão de nos fazer sentir únicos. Há uns dias, tive oportunidade de ver uma autêntica obra de arte saída das mãos do proprietário da Confeitaria Paulista. Trata-se da peça cuja fotografia está a ilustrar esta publicação. Ao ter acesso ao dito quadro, acreditem, que senti ARTE, que senti BELEZA e depois de saber a história que o envolve, senti que ali, existia GRATIDÃO.  Ora o Sr. Jorge Mendes, decidiu pôr mãos à obra e fazer este maravilhoso trabalho em pão. Sim, trata-se de pão e não outro material qualquer. Explicou-me as múltiplas e morosas voltas que este trabalho dá, até chegar ao resultado...

A LOUCURA DO MUNDO

  Tinha decidido que hoje escreveria de novo sobre a minha viagem ao Japão, e que vos contaria algumas peripécias dignas de registo humorístico, daquelas que sempre me acontecem e me divertem ao ponto de querer partilhar com outros, e porque me faz feliz. Faz-me feliz fazer aparecer um sorriso no rosto de quem lê os meus textos, um sorriso que muitas vezes anda escondido e tarda em aparecer. No entanto, nem sempre isso é possível, e hoje não pode ser assim. Hoje tenho de partilhar convosco a minha tristeza, a minha revolta, a minha frustração. Desculpem-me mas terá de ser assim. Logo pela manhã, como habitualmente, abri o rádio para me atualizar acerca do que se passa no nosso país e para além dele, e o que fui ouvindo fez-me decidir que não concluiria o meu texto nos termos em que tinha pensado. Não tinha esse direito perante o que estava a ouvir. Se o fizesse era como se também estivesse a assobiar para o lado perante o horror que me descreviam. Apesar de ser uma peça insignifica...