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INTERRUPÇÃO NÃO PROGRAMADA

MARIA DA CÂMARA, A MINHA MÃE

Hoje, ao ler um texto publicado na Sexta feira Santa pelo Padre José Julio Rocha, meu conterrâneo, na sua página de Facebook, apanhei como que um “murro no estomago”.

Inicia assim: “Não me venham com Ursula von der Leyen, Christine Lagarde ou Kamala Haris….

Metam no saco Marilyn Monroe, Maryl Streep ou Angeline Jolie. 

A mulher mais importante do mundo chama-se Maria da Conceição Costa Mendes e toda a gente sabe quem é...”  e continua a descrever aquela que é a sua própria mãe.

Fala-nos das suas doenças, das suas privações, das suas perdas, mas sobretudo do seu amor pelos filhos. Conta-nos, com algum humor, a dificuldade que teve em aceitar que ele, aos 31 anos, já professor no Seminário de Angra do Heroísmo e depois de vários anos em Roma, fosse viver sozinho, pois não o achava com competência para tal. E com a certeza que nada pagará o amor de uma mãe, é que a levou à Missa do Lava-pés, para que fizesse parte do grupo de outras mulheres a quem, ele próprio, lavaria os pés, e cito “…como quem pega numa pedra preciosa, beijá-los-ei doze vezes…”

Ao acabar a leitura, a imagem da minha mãe já se sobrepunha a tudo e as lágrimas teimavam em cair. Quantas e quantas vezes perco tempo a responder à pergunta “quem é o teu ídolo”, já que, com o passar dos anos tenho mudado de ídolo vezes sem conta, para além de que atualmente já nem pondero tal coisa, pelo receio do tamanho da deceção que poderei vir a ter.

Mas porque tenho esta dificuldade se, desde que nasci, tive sempre a dar-me o maior exemplo de amor, generosidade, bom senso, resiliência e, e, e, a mulher que me deu a vida, Maria da Câmara, a minha própria mãe?

Recordei as vezes em que a visitava, ao fim do dia e ao regressar do trabalho, e quando me preparava para sair, me perguntava “já te vais embora?” e eu, às vezes já um pouco impaciente, lhe respondia, “claro mãe, também tenho a minha vida para tratar”, e ela me respondia com a mesma serenidade de sempre “claro filha, eu compreendo, mas gosto tanto que aqui estejas.”.

Quem dera pudesse tê-la de novo para me desculpar de todas as vezes em que não lhe dei o carinho e a atenção que tanto merecia. No entanto, também revi as inúmeras vezes em que me sentava a seu lado, com a mão dela na minha, e me deixava estar, sem falarmos, só mesmo a desfrutar do momento, nada mais que isso.

Metam no saco todas as estrelas de cinema, todas as grandes figuras políticas, todas as beneméritas deste mundo, pois a mulher mais importante para mim, será sempre e cada vez com maior convicção, Maria da Câmara, a minha MÃE.

Ana Toste


Comentários

  1. Querida Ana, sim não há idol melhor do que a tua Mãe, pessoa meiga muito bondosa. Beijinho para ti.

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  2. Obrigada por tão maravilhoso texto. O impacto é estrondoso!!!

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  3. Acabei de levar um enorme soco no estômago...

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  4. Nunca antes havia pensado assim…Agradecida pela partilha porque ainda vou a tempo de acertar o compasso com a minha mãe. Sempre que a olhar,lembrar-me-ei destas palavras ou melhor deste ensinamento! Bem hajas tia.

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