Setembro de 2010. Um amigo bate-nos à porta e presenteia-nos com um gatinho de raça shorthair, cor de chocolate e ainda na transportadora em que o trouxe no voo da TAP vindo de Lisboa.
Os seus olhos enormes e assustados conquistam-nos de imediato, e a partir daquele dia, o Igor, assim o apelidámos, passa a fazer parte da nossa vida e da família de 2 patas que já temos cá em casa.
À medida que os dias passam, vamos percebendo que é um animal muito especial, de uma delicadeza e serenidade incomparáveis, o que vai fazendo com que o amor entre nós cresça mais, mais e ainda mais…
Os anos passam, e há 3 anos atrás o coraçãozinho do Igor, que já tem 10 anos de idade, dá mostras de não estar saudável. Depois de exames e tratamentos, consegue-se estabilizá-lo, e assim continua até que há umas semanas percebemos que não está bem. Iniciam-se as idas ao veterinário, os exames, novos tratamentos e internamentos. O “coração doente faz com que se acumulem líquidos que o impedem de respirar”, dizem-nos. Não queremos saber…. Queremos é que recupere e que o tenhamos connosco, se possível, para todo o sempre.
As drenagens dia sim dia não e os medicamentos várias vezes ao dia não bastam, e o Igor deixa praticamente de comer, pois até esse esforço lhe é penoso. O veterinário que sabe o amor que nos une, olha para nós e já não sabe mais o que dizer…. É por isso altura de aceitarmos que o que podemos fazer por ele é ajudá-lo a que nos deixe, de forma serena e tanto quanto sabemos, sem grande sofrimento.
Lembrando-me de um artigo sobre a eutanásia em animais, publicado num jornal espanhol, cujo autor dizia para não lhes virarmos as costas nessa hora, e os acarinharmos até ao fim do processo, decido que é assim que farei.
Dia de nova ia à clínica, e depois de uma longa conversa com o veterinário em que me dá todas as garantias de que nada mais há a fazer, decido que é chegada a hora. Peço-lhe para estar com ele até tudo estar acabado. Concorda, e deixa-me sozinha para me despedir. Faço-o com as lágrimas a caírem sobre o seu pelo maravilhoso. Digo-lhe tudo o que me vai no coração e sempre a afagá-lo deixo que seja sedado, e depois que concluam o processo. Regresso a casa com ele numa caixa de cartão, enquanto as lágrimas quase nem me deixam conduzir.
Hoje, com o coração partido, parece-me vê-lo a cada canto com os seus olhos enormes a espreitarem e a vir ao meu encontro para se deixar afagar. Será que fiz bem? Será que não o devia ter feito? Não sei, nem ninguém saberá. O que sei é que o fiz com a firme convicção de que por amor também temos de os deixar partir e, se possível, ajudá-los a que não haja muito sofrimento.
Citando um amigo, “vivemos o nosso dia a dia como se não tivéssemos prazo de validade, achando que se não pensarmos no assunto não o atingiremos.” Pura ilusão. Temos nós e tudo o que nos rodeia, sem exceção.
Ana Toste
Deixar partir o que se ama é um ato de coragem e de amor...a alma do Igor, eu acredito que os animais têm alma, será eternamente grata e estará sempre a olhar para ti, com aqueles olhos grandes e carinhosos, de forma carinhosa. Beijinho e muito força 😔 Manuela
ResponderEliminarMuito obrigada. Se for como diz, é mesmo um conforto.
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