Nada tenho a ver com as razões que os levaram a deixar o seu “cantinho”, para irem viver num ambiente completamente diferente. No entanto, sinto que já tenho o direito e diria até o dever de os defender, quando já não são capazes de dizer NÃO, NÃO QUERO QUE A MINHA FOTOGRAFIA SEJA PARTILHADA PUBLICAMENTE NUMA REDE SOCIAL.
Será que a algum deles, pai, mãe, tio ou tia, deitados na cama de um lar, com uma expressão vazia e já sem qualquer sinal da energia que um dia marcou os seus rostos, lhes é perguntado se autorizam que sejam fotografados e que a sua foto seja partilhada publicamente?
Será que estas fotos se destinam a que saibamos que aquelas pessoas ainda pertencem ao reino dos vivos, ou a que não duvidemos que o filho, a filha, o sobrinho ou a sobrinha ainda os visita, nem que seja uma vez lá muito de vez em quando?
Qualquer imagem da que vos falo me lembra imediatamente o meu pai ou a minha mãe, e sei exatamente qual a resposta que obteria se lhes pedisse autorização para tal. Aliás, tenho a firme convicção de que não o faria, porque, se tudo fizemos para lhes minimizar a perda de capacidades físicas, paralelamente nunca descurámos preservar a dignidade a que tinham direito e que tanto mereciam.
Lembro a minha mãe, enquanto autónoma, que todas as semanas ia à cabeleireira “arranjar o seu cabelo”, como dizia. Sabíamos que não o fazia só por ela. Fazia-o pelo meu pai e também por nós, que tanto gostávamos de a ver nesse dia quando regressava a casa. Já acamada, fazíamos questão de lhe escovar o seu maravilhoso cabelo branco, e de o ajeitar num carrapito de forma a que não a incomodasse. No entanto, também me lembro que às vezes lhe pedia para tirarmos uma foto e que, apesar de aceder, me dizia sempre “… mas é só para ti e para os teus irmãos”. E foi sempre uma promessa cumprida.
É por estas lembranças que escrevo este texto, que é como que um grito de socorro por aqueles que já não podem falar, que já não podem impedir, por si próprios, que a sua foto percorra meio mundo, sem motivar outro sentimento que não o de uma profunda tristeza e pura compaixão.
É por isso que termino pedindo que não o façam. Eles merecem o nosso maior respeito! Eles merecem que preservemos a dignidade que lhes resta!
Ana Toste
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