Venci. Venci a preguiça de sair. Fiz alguns quilómetros de carro e eis-me em frente ao mar imenso. Está revolto, barulhento mas belo como sempre. Está muito sol. Dentro de um bar todo envidraçado mesmo juntinho ao areal oiço o seu barulho e questiono se ele estará mesmo zangado. Se estará furioso com alguém ou desgostoso pela sua solidão. É a sua maneira de desabafar. Fala consigo próprio, não tem com quem falar. Acumula nas suas ondas o seu descontentamento por não ter com quem brincar. Não pode dizer vou ali e já venho. De facto ele vai. Vai mais acima no areal mas coitado está limitado. Por muito que queira não atinge ninguém. Mas também não há ninguém, ele está realmente só, entregue a si próprio.
Aqui onde vejo e ouço o mar vejo também pessoas sentadas neste bar, aos pares. Ninguém está só. Só eu, este desgraçado.
Sou desgraçado porque quero? Não creio. E será que sou mesmo um desgraçado? Acho que é um exagero utilizar esta palavra.
Estou simplesmente a passar um mau momento. Vai melhorar. Nada fica igual para sempre.
Acontecem situações na nossa vida que nos abalam. Depois depende de nós dar um primeiro passo para reverter a situação. Se não o fizermos corremos o risco de piorar até ao ponto de não haver retorno.
Eu sei. É mesmo assim. Mas depois não faço nada e continuo a ser este "desgraçado".
Se pensarmos bem e olharmos atentamente para este nosso oceano Atlântico e para este lindo dia de sol, até devíamos agradecer pela vida que temos. Há tanta tanta desgraça 'lá fora'.
Vou daqui mais tranquilo. Levo o mar nos meus olhos e o seu sussurro nos ouvidos . E a esperança no coração.
Obrigada
Cristóvão de A.
Quantas e quantas vezes sabemos que temos as ferramentas para reverter a situação, reconhecemo-las, mas não nos apetece usá-las...
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