Avançar para o conteúdo principal

MERCEDES?

DESILUSÃO

 

Venci. Venci a preguiça de sair. Fiz alguns quilómetros de carro e eis-me em frente ao mar imenso. Está revolto, barulhento mas belo como sempre. Está muito sol. Dentro de um bar todo envidraçado mesmo juntinho ao areal oiço o seu barulho e questiono se ele estará mesmo zangado. Se estará furioso com alguém ou desgostoso pela sua solidão. É a sua maneira de desabafar. Fala consigo próprio, não tem com quem falar. Acumula nas suas ondas o seu descontentamento por não ter com quem brincar. Não pode dizer vou ali e já venho. De facto ele vai. Vai mais acima no areal mas coitado está limitado. Por muito que queira não atinge ninguém. Mas também não há ninguém, ele está realmente só, entregue a si próprio.

Aqui onde vejo e ouço o mar vejo também pessoas sentadas neste bar, aos pares. Ninguém está só. Só eu, este desgraçado. 

Sou desgraçado porque quero? Não creio. E será que sou mesmo um desgraçado? Acho que é um exagero utilizar esta palavra. 

Estou simplesmente a passar um mau momento. Vai melhorar. Nada fica igual para sempre. 

Acontecem situações na nossa vida que nos abalam. Depois depende de nós dar um primeiro passo para reverter a situação. Se não o fizermos corremos o risco de piorar até ao ponto de não haver retorno. 

Eu sei. É mesmo assim. Mas depois não faço nada e continuo a ser este "desgraçado". 

 Se pensarmos bem e olharmos atentamente para este nosso oceano Atlântico e para este lindo dia de sol, até devíamos agradecer pela vida que temos. Há tanta tanta desgraça 'lá fora'.

Vou daqui mais tranquilo. Levo o mar nos meus olhos e o seu sussurro nos ouvidos . E a esperança no coração. 

Obrigada 

Cristóvão de A. 


Comentários

  1. Quantas e quantas vezes sabemos que temos as ferramentas para reverter a situação, reconhecemo-las, mas não nos apetece usá-las...

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

O MEU DIA DE ANOS

Nove de novembro, dia dos meus anos.  Para mim um dia igual a tantos outros, não fosse o carinho das mensagens, telefonemas e prendas dos que teimam em não cumprir com o meu pedido de não o fazerem. Todos os anos o repetem, porque estão seguros de que não cumprirei a ameaça de não os aceitar.  A este propósito, e com o objetivo de vos dispor bem, vou contar-vos um episódio, digno de uma comédia, vivido há alguns anos atrás, exatamente no dia dos meus anos, e fruto de uma prenda recebida de um grupo de amigas queridas. Nesse ano, as amigas mais chegadas decidiram acarinhar-me com um voucher de um salão de beleza local, que constava de uma “massagem aromática manual de relaxamento profundo”. Encantada com esta oferta, decidi desfrutar dela no mesmo dia. Se assim pensei, melhor o fiz. Dirigi-me ao salão de beleza, e após os cumprimentos iniciais, conduziram-me à sala onde me tratariam e eu sairia revigorada lá para o fim da tarde. Deitei-me na marquesa com as costas voltadas para cima, co

QUANDO PERCEBES QUE NÃO HÁ VOLTA A DAR

 “A Sra. é tal e qual a minha avozinha. Ela não sai de casa sem os seus adereços. É uma querida, mas muito vaidosa”. É com esta frase que uma jovem técnica me presenteia, enquanto aguarda que eu conclua a tarefa desesperada de tirar os brincos e o colar, cujo fecho teima em não abrir. Eu, a paciente que irá fazer uma radiografia dentária. Ela, a técnica que a fará. Eu, uma mulher madura de 66 anos, convencida, até àquela hora, que em nada os aparentava. Ela uma jovem radiante nos seus 20 e poucos anos de idade. Avozinha? Eu, avozinha e mais ainda, vaidosa…   Reparem que não me comparou à sua avó. Fê-lo em relação à sua avozinha, o que para mim corresponde a bisavó.  Não faço qualquer comentário, mas lembro-me imediatamente do que brinquei com a minha amiga Fernanda, mais velha que eu 3 anos, quando me contou que, após completar os 65 anos de idade, tinha ido comprar o passe mensal para o comboio, e ao querer entregar o cartão de cidadão ao funcionário que a atendia, para que fizesse pr

EU E OS MEUS TÉNIS PARA QUASE TODAS AS OCASIÕES

  Preciso de uns ténis para todas as ocasiões, ou quase todas, é um pensamento que me ocorre, especialmente quando, por não os ter, tenho de usar sapatos de salto, que me fazem sofrer horrores nas ocasiões que a isso obrigam. Tenho ténis de várias formas e cores, mas faltam-me os tais. Aqueles que vês nas páginas de publicidade das revistas de moda, e que pensas que, um dia, se puderes, os vais comprar. É então que na minha última viagem a Lisboa, passo por uma sapataria, e vejo em destaque, exatamente os ténis com que venho a sonhar desde há muito. Paro de imediato, e procuro ler o preço que está num talão muito pequenino, como que meio envergonhado, junto do artigo pelo qual já me apaixonei. Por este preço nem pensar, só se estivesse doida, penso eu, e sigo em frente, apesar de a algum custo. Nos dias seguintes e porque o trajeto me faz passar diariamente pela mesma sapataria, vou vendo que eles continuam no mesmo sítio. Lindos de morrer… penso eu todos os dias. Mas, por aquele preço