Avançar para o conteúdo principal

INTERRUPÇÃO NÃO PROGRAMADA

NATAL 2021

 

Este ano retomei a tradição de fazer o que pomposamente chamo “as minhas bolachinhas de natal”, já que é só nesta época do ano que me dedico a esta tarefa, e porque a sua cozedura envolve a casa num aroma maravilhoso de especiarias, que tanto me faz lembrar o natal da minha infância.

Feitas as bolachas, houve que as embalar em caixinha próprias para o efeito, pois grande parte destinava-se a oferecer às/aos colegas e amigas/os que durante o ano, de uma forma ou de outra, me ajudaram e merecem o meu apreço.

Até aqui nada diferente do que tantas pessoas farão nesta época do ano.  No entanto, a diferença provavelmente estará no que senti ao entregar a minha simples prenda aos destinatários: Uma alegria desmedida pela partilha de algo muito simples, mas feito por mim, especialmente para, entre outros, a Idalina, o Fernando, o Mateus, a Cristina, a Lizandra e o Jorge, ou sejam, telefonistas, condutor, assistentes operacionais e informático que tantas e tantas vezes me socorre durante o ano.

Estou convicta de que apreciaram o meu gesto, mas o importante foi o que senti ao entregar a cada um a caixinha com o seu nome. Isso sim, encheu-me o coração, e de tal maneira que tornou demasiado intensa a lembrança da minha querida mãe, e da alegria que nos transmitia enquanto preparava, sob o olhar complacente do meu querido pai, um número interminável de prendinhas para todas as pessoas que entendia que mereciam a sua especial atenção no natal. Eram médicos, enfermeiras/os, auxiliares, secretárias do serviço hospitalar onde tivesse estado internada, e até a assistente do consultório de determinado médico que, segundo ela, tinha sido muito simpática em determinado dia de consulta. Lembro-me de várias vezes lhe dizer “mãe, a lista está a atingir um número incomportável. Não acha que devia acabar com isto?” ao que me respondia: “Enquanto for viva, é isto que farei. E tu, filha, um dia vais perceber que há uma etapa da vida em que nos sentimos muito mais felizes em dar do que em receber”. Rendia-me à evidência, e lá continuava eu a embrulhar paninhos de pão, de tabuleiro ou outros, feitos por ela durante o ano para mimar os seus destinatários no natal.  

Hoje senti exatamente essa alegria, e o meu coração encheu-se ainda mais (se isso é possível), de amor, por esta mulher, serena e generosa, com um coração do tamanho do mundo, que tanta e tanta falta me faz, mas cujo legado merece o meu eterno agradecimento.

Não gosto da azáfama das compras e dos preparativos do natal. Não gosto dos jantares com grupos que durante o ano quase nem se falam, mas que só porque é Natal, quase se abraçam uns aos outros. O Natal, para mim, está no sorriso de uma criança, no brilho do olhar de um colega que não esperava ser mimado, na partilha de algo que fará a diferença na vida de uma pessoa ou de uma família.

Se o Natal é partilha e amor, então, este ano, só hoje o comecei a viver.

Feliz Natal!

Ana Toste


Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

A MINHA VIAGEM AO JAPÃO

Verdade, fui ao Japão. Verdade, aventurei-me a, depois de 2h30 de viagem para Lisboa, meter-me num outro avião para, durante 7h30, fazer Lisboa-Dubai, e ainda noutro para mais 9h30 até Tóquio. Ainda hoje me pergunto como me aventurei a tal, eu que me arrepio sempre que se fala em viagens de avião. Mas fi-lo e ainda bem!   O Japão nunca foi um país que me despertasse grande interesse, logo uma viagem que, não fosse a minha amiga Manuela, provavelmente não teria feito. Por diversas vezes já lhe agradeci e vou sempre agradecer-lhe ter-me ligado, naquele dia, a dizer-me “… vamos?” Mas, se nada é por acaso, é porque agora é que era a altura certa para a fazer, pois a idade já me permitiu uma plenitude que antes não alcançava. Já regressei há vários dias e ainda não “aterrei” no meu quotidiano. Continuo, a cada minuto, a visualizar imagens, paisagens, gestos e atitudes que me levam ao que, agora, considero um outro mundo. Um outro mundo em que é notório o respeito pelo outro, nomead...

A ARTE, A BELEZA E A GRATIDÃO

  Sou frequentadora assídua da Confeitaria Paulista na Maia, onde a D. Elvira e o Sr. Jorge Mendes (proprietários), fazem questão de nos receber de “braços abertos.” Tomo o meu café e pão com manteiga neste maravilhoso espaço. É um local muito familiar. Um espaço onde nos sentimos muito bem!!!  Somos bem recebidos; Bem tratados; Bem-vindos!!! Sentimo-nos em casa. A D. Elvira faz questão de nos fazer sentir únicos. Há uns dias, tive oportunidade de ver uma autêntica obra de arte saída das mãos do proprietário da Confeitaria Paulista. Trata-se da peça cuja fotografia está a ilustrar esta publicação. Ao ter acesso ao dito quadro, acreditem, que senti ARTE, que senti BELEZA e depois de saber a história que o envolve, senti que ali, existia GRATIDÃO.  Ora o Sr. Jorge Mendes, decidiu pôr mãos à obra e fazer este maravilhoso trabalho em pão. Sim, trata-se de pão e não outro material qualquer. Explicou-me as múltiplas e morosas voltas que este trabalho dá, até chegar ao resultado...

A LOUCURA DO MUNDO

  Tinha decidido que hoje escreveria de novo sobre a minha viagem ao Japão, e que vos contaria algumas peripécias dignas de registo humorístico, daquelas que sempre me acontecem e me divertem ao ponto de querer partilhar com outros, e porque me faz feliz. Faz-me feliz fazer aparecer um sorriso no rosto de quem lê os meus textos, um sorriso que muitas vezes anda escondido e tarda em aparecer. No entanto, nem sempre isso é possível, e hoje não pode ser assim. Hoje tenho de partilhar convosco a minha tristeza, a minha revolta, a minha frustração. Desculpem-me mas terá de ser assim. Logo pela manhã, como habitualmente, abri o rádio para me atualizar acerca do que se passa no nosso país e para além dele, e o que fui ouvindo fez-me decidir que não concluiria o meu texto nos termos em que tinha pensado. Não tinha esse direito perante o que estava a ouvir. Se o fizesse era como se também estivesse a assobiar para o lado perante o horror que me descreviam. Apesar de ser uma peça insignifica...