Quando completei o 12º ano, por questões que não vou aqui referir agora, decidi ingressar no mercado de trabalho. Sim, decidi, mas não sabia bem o que queria fazer ou para que é que tinha “jeito”.
No meu grupo de amigas eu sempre fui a que zelava pela beleza delas. Tratava das sobrancelhas, da maquilhagem e das mãos. Gostava imenso do que fazia e do resultado que via no final.
Um dia, ao ler os anúncios de emprego no Jornal de Notícias, vi que uma cabeleireira muito perto da minha casa, precisava de uma manicure. Levantei-me de imediato da mesa de café, onde me encontrava e, sem mais demora, fui até aquele salão.
A proprietária disse-me que não me poderia atender sem marcação e por isso mesmo tinha posto anúncio para que as pessoas respondessem e depois ela marcasse as entrevistas, se fosse caso disso.
Ia tão alegre para lá e voltei tão cabisbaixa para casa…
Conto à minha mãe o que se passou e ela, que sempre me quis ver como recepcionista num consultório médico ou num escritório de advogados, não me alimentou a esperança de ir trabalhar como manicure para um cabeleireiro.
No dia seguinte de manhã, volto ao café para tirar o número do anúncio e poder responder, por escrito, mas o jornal já tinha ido para o lixo.
Decido voltar ao salão de cabeleireiro e a proprietária olha para mim e creio que terá ficado impressionada com a minha insistência. Pedi para entrar e enquanto ela atendia uma cliente, dei-lhe conta da situação. A cliente achou imensa piada a minha “desenvoltura “ para a idade que tinha e intercedeu por mim. E assim comecei a trabalhar naquele bendito salão de cabeleireiro na terça feira seguinte, já que na segunda era dia de folga.
Esforcei-me imenso, trabalhei horas a fio, massajei mãos sem fim, apanhei cabelos do chão, varri o salão, limpei sofás e cadeiras, fiz recados, estendi toalhas, limpei pó e fui, sempre que possível, fazendo formação pós-laboral na minha área.
Trabalho há 34 anos. Amo o que faço. As minhas e os meus clientes adoram o meu trabalho.
Sinto um enorme orgulho no resultado final de cada cliente. Entram inúmeras vezes com mãos ásperas, mal tratadas, unhas roídas, peles arrancadas e saem habitualmente com mãos macias e sedosas.
Quanto aos pés, nem é bom falar… Chegam tantas vezes tão desleixados mas quando acabo o meu trabalho são raras as vezes que os clientes não referem o quão bem se sentem.
Quis deixar este meu testemunho pois sinto-me orgulhosa de prestar um serviço que dá beleza e felicidade às pessoas.
Ah! e com isto tudo, esqueci-me de dizer que tenho já a minha própria empresa onde continuo a ser bem sucedida, amada e respeitada por todos os que de há muitos anos ou mais recentes, continuam a querer esta minha prestação de serviços, cheia de amor e glamour.
A.P. Sousa
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