Nove horas da manhã. Estaciono o carro e saio para o parque de estacionamento do meu serviço que, àquela hora, apesar de cheio de automóveis, não tem mais viv'alma que, para além de mim, um jovem que transpôs o portão e se encaminha tal como eu para a porta de entrada.
Enquanto tiro do carro a minha carteira, preocupo-me em olhar para ele, de modo a cumprimentá-lo desejando-lhe um bom dia, como faço sempre, tanto mais que presumo (e bem, como vim depois a confirmar), tratar-se de um colega de trabalho.
O jovem, de mochila às costas, com o olhar pregado no chão que pisa, perante o meu alegre cumprimento, responde, sem levantar os olhos, qualquer coisa parecida com um "grunhido", mas que com muito boa vontade interpreto como "bum dia", e segue em frente, como se eu o tivesse incomodado, forçado a acordar para o mundo, a uma hora a que provavelmente gostaria ainda de ainda estar na cama.
Perante tal postura, pergunto à colega que está de serviço na receção, se é comum tal acontecer. Responde-me "... e este ainda lhe disse alguma coisa, porque há alguns que entram e passam por nós como se nem existíssemos".
Fico incrédula. Nem quero acreditar! Onde estamos a falhar na educação dos nossos jovens, dos nossos filhos, dos nossos semelhantes? Será que a educação tinha prazo de validade e esse prazo expirou sem que nos tivéssemos dado ao trabalho de o renovar? Não creio! E também não quero crer que àquele jovem não lhe tenham ensinado as regras mais básicas de educação, já que ele tem pais, teve professores e agora tem chefias que também o podem ensinar, o podem chamar à realidade.
Quem estiver atento percebe que até os animais "se cumprimentam" uns aos outros quando se encontram. Vejo isso diariamente e acho maravilhosos. Não aceito que o mesmo não aconteça com os meus semelhantes, e muito menos com os colegas com quem me cruzo diariamente. Para além disso, preocupa-me sobremaneira saber que muitos deles passarão o dia a atender pessoas que, por vezes, mais não querem do que alguém que os oiça e os valorize, e a última coisa que esperam é encontrar alguém que parece trazer o mundo às costas, ou que está em guerra constante com esse mesmo mundo.
Não peço nada de especial. Não peço que se desfaçam em sorrisos. Não peço que carreguem ninguém ao colo. Peço simplesmente que demonstrem que conhecem as regras mais básicas da educação e da convivência. Que são cidadãos do mundo, um mundo onde cada um tem a responsabilidade e o dever cívico de se importar com o outro. Tão simples como isso. A não ser assim, a minha convicção é de que seguramente não estão/ estamos preparados para viver em sociedade.
Fica o alerta e a minha preocupação. E se necessário for, voltemos ao início da nossa aprendizagem, pois só com bons alicerces se constroem edifícios que não desabam.
Ana Toste
Obrigada por ter trazido este tema. É tão importante e a generalidade das pessoas não lhe dá o devido valor. Eu tenho por princípio saudar e consequência desta forma de estar é ser confrontada com o meu eco, por exemplo, entro num elevador e saúdo. A resposta habitual é... silêncio. É muito curioso. Dá que pensar.
ResponderEliminar