Avançar para o conteúdo principal

RESULTADO DUMA QUEDA... PARAGEM FORÇADA E OBRIGADA

FUI CUIDADORA (PARTE I)

Fui cuidadora de cinco pessoas, cada uma a seu tempo. Foram momentos muito difíceis pelos quais passei mas considero que dei o meu melhor para as ajudar embora bem no fundo do meu coração ache que podia ter feito sempre mais e melhor.

Era eu ainda jovem, na casa dos 30 quando a minha mãe adoeceu. Sendo filha única não reparti com mais ninguém a função de cuidadora. Fui eu sozinha. A lei da altura permitiu me suspender a minha actividade profissional para ficar em casa dedicada à minha mãe. Foi um período curto uma vez que teve de ser internada no Hospital de São João. Infelizmente, desde que a doença da minha mãe se manifestou até ao seu falecimento foram só dois meses.

Senti me perdida, sem ela a meu lado. O meu filho tinha apenas dois anos de idade e era o único neto. Naquele dia de manhã  fui, como era habitual, com o meu filho visita lá ao hospital e foi lá, nesse momento, que me deram a notícia. Ouvi de algumas pessoas que estavam internadas na mesma enfermaria que a minha mãe se apercebia do que lhe estava a acontecer e só chorava pelo neto.

Passaram alguns anos. 

Fui mãe de novo, agora uma menina. 

Os meus dois filhos ficavam durante o dia em casa de uma ama enquanto eu ia trabalhar. Era uma senhora vizinha da casa de meus pais e que, portanto, me conhecia desde criança . A ama enviuvou. Envelheceu. Caia com frequência e uma dessas quedas foi violenta. Partiu a anca. Foi operada. Ficou imobilizada algum tempo. Não tinha filhos. Só lhe restava um irmão emigrado em França. Quem olhava por ela? Eu. Passado algum tempo a ama faleceu já muito velhinha. Na fase final de vida estava ao cuidado de um lar. 

Passaram mais alguns anos.

Uma tia, irmã do meu pai, vivia sozinha. Nunca casou. Nunca teve filhos. Quem tratou dela? Eu. Gostava muito de mim e só me queria para a levar às consultas, tratamentos (fazia hemodiálise) e urgência do hospital onde era muito frequente ir devido às crises. Não quis ir para um lar. Nunca deixou a casa dela. Embora relativamente perto da minha casa, era custoso ir lá a pé. Eu era constantemente chamada pela vizinha, quer fosse dia quer fosse noite para a levar ao hospital. E eu lá ia. Numa dessas crises com recurso a urgência hospitalar, entrou lá hipotensa e nessa noite faleceu. 

 CONTINUA…


Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

QUANDO PERCEBES QUE NÃO HÁ VOLTA A DAR

 “A Sra. é tal e qual a minha avozinha. Ela não sai de casa sem os seus adereços. É uma querida, mas muito vaidosa”. É com esta frase que uma jovem técnica me presenteia, enquanto aguarda que eu conclua a tarefa desesperada de tirar os brincos e o colar, cujo fecho teima em não abrir. Eu, a paciente que irá fazer uma radiografia dentária. Ela, a técnica que a fará. Eu, uma mulher madura de 66 anos, convencida, até àquela hora, que em nada os aparentava. Ela uma jovem radiante nos seus 20 e poucos anos de idade. Avozinha? Eu, avozinha e mais ainda, vaidosa…   Reparem que não me comparou à sua avó. Fê-lo em relação à sua avozinha, o que para mim corresponde a bisavó.  Não faço qualquer comentário, mas lembro-me imediatamente do que brinquei com a minha amiga Fernanda, mais velha que eu 3 anos, quando me contou que, após completar os 65 anos de idade, tinha ido comprar o passe mensal para o comboio, e ao querer entregar o cartão de cidadão ao funcionário que a atendia, para que fizesse pr

MERCEDES?

Mercedes? No café em Lisboa, vejo uma senhora já com a sua idade que provavelmente se chama Mercedes, a tratar das cartas que lhe chegaram a casa ou não.  Ao mesmo tempo fuma um cigarro que colocou delicadamente no cinzeiro enquanto organiza as cartas, quiçá mais contas para pagar, outro corte na reforma. Talvez sejam as cartas de um neto emigrado a mandar beijinhos com carinho para não usar o WhatsApp. Acabou de arrumá-las e voltou a pegar no seu cigarro, marca Rothmans. Fuma-o e pensa. Será que pensa nas cartas? No calor que está? No tabaco que está caro? Ou estará a fazer uma retrospetiva da sua vida? Que Lisboa não é a mesma que conheceu; A pensar no seu primeiro amor; No sua avó, no seu avô;  no primeiro gira discos que comprou e que pagou 40 contos? no seu primeiro cigarro? Dá um gole na sua água e acende outro cigarro Rothmans. Estou numa mesa a menos de 3 metros desta senhora que não passa de uma suposição minha que se chama Mercedes. Será feliz? Devo admitir que tem muita clas

EU E OS MEUS TÉNIS PARA QUASE TODAS AS OCASIÕES

  Preciso de uns ténis para todas as ocasiões, ou quase todas, é um pensamento que me ocorre, especialmente quando, por não os ter, tenho de usar sapatos de salto, que me fazem sofrer horrores nas ocasiões que a isso obrigam. Tenho ténis de várias formas e cores, mas faltam-me os tais. Aqueles que vês nas páginas de publicidade das revistas de moda, e que pensas que, um dia, se puderes, os vais comprar. É então que na minha última viagem a Lisboa, passo por uma sapataria, e vejo em destaque, exatamente os ténis com que venho a sonhar desde há muito. Paro de imediato, e procuro ler o preço que está num talão muito pequenino, como que meio envergonhado, junto do artigo pelo qual já me apaixonei. Por este preço nem pensar, só se estivesse doida, penso eu, e sigo em frente, apesar de a algum custo. Nos dias seguintes e porque o trajeto me faz passar diariamente pela mesma sapataria, vou vendo que eles continuam no mesmo sítio. Lindos de morrer… penso eu todos os dias. Mas, por aquele preço