Gostaria de aqui lembrar que à época, ao contrário de hoje, os empregos eram para a vida. Quem tivesse uma alta rotatividade de empregos significava que seria um péssimo colaborador. Seria alguém que não parava em lado nenhum. Seria uma pessoa irresponsável. Inconstante. Alguém que não encarava o futuro, como ele devia ser encarado.
Voltando então a mim e à minha situação, escusado será dizer que nessa noite, praticamente, não preguei olho.
No dia seguinte, cheguei à empresa e a primeira coisa que fiz, foi pedir uma reunião com o meu director geral. Quem era eu? Como me atrevia a ter uma audácia dessas? Ninguém falava directamente com o director geral a não ser as hierarquias.
Dia após dia, aí estava eu a aguardar que me viessem chamar para ter a dita reunião. Os dias iam passando e nada. Via-o no corredor. Olhava para ele e ele para mim e nada. Eu continuo a insistir no meu pedido de audiência.
Passou-se um mês e um dia e finalmente a minha hierarquia informa-me que me devo dirigir ao gabinete do diretor geral.
Aí vou eu. Bato à porta. Aguardo permissão para entrar. Finalmente estou dentro do célebre gabinete do meu director geral.
Lembro-me de sentir as pernas a tremer. No que toca às minhas mãos, nem é bom falar. Tremiam e suavam, como nunca. Quanto à voz, até parecia que não era eu que estava a falar.
É-me perguntado o que é que eu pretendia e eu, fruto da inexperiência e imaturidade, começo por agradecer ter sido recebida e, logo de imediato, digo que estava há precisamente 31 dias a aguardar esta oportunidade, dado que tinha um assunto muito urgente para comunicar.
Lembro-me muito bem da expressão facial do meu director geral, seguida das seguintes palavras:
- Assunto urgente? Provavelmente ainda desconhece, mas, urgências, só mesmo no hospital e isto aqui é uma empresa.
Caiu-me tudo. Ruborizei, senti-me a transpirar e não sabia mesmo o que dizer, mas não precisei de aguardar muito mais para ouvir o veredicto:
- Aqui, o máximo que pode existir é prioridade e a sua não é definitivamente a minha prioridade.
Comentários
Enviar um comentário