Avançar para o conteúdo principal

INTERRUPÇÃO NÃO PROGRAMADA

O SIGNIFICADO DE PONTUALIDADE

Há 50 anos, tive o meu início profissional. Lembro-me como se fosse hoje, que na noite anterior, nem consegui dormir. A excitação e o medo do desconhecido não me largavam…

Tratava-se do meu primeiro emprego e ainda por cima numa empresa belga. Ah! Sim, já sei em que estão a pensar:

…Empresa belga??? Qual é o problema?

Efectivamente nos dias de hoje, toda a gente conhece alguém que trabalha, ou já trabalhou com estrangeiros, mas, ter essa hipótese há 50 anos, era algo muito diferente.

Bom, rumando agora ao meu primeiro dia de trabalho, gostava de dar o conhecer uma curiosidade que ainda hoje me acompanha e que foi marcante para a minha vida pessoal e profissional.

Cheguei à empresa cerca de 15 minutos antes do horário estabelecido. Fui recebida por uma colaboradora que de imediato me levou ao local onde eu teria de “picar” o ponto. Sim, chamava-se assim à época, a tarefa de pegar no cartão de presença, passá-lo por um relógio, que marcaria de imediato a hora a que eu tinha entrado na empresa.

Quando estávamos já junto do dito relógio, aproxima-se um senhor de meia idade, com uma compleição física algo imponente que,  parando junto de nós, me saúda e de imediato agradece à colaborada que me recebeu e lhe pede que se dirija à Recepção (posto de trabalho dela).

Entretanto o dito senhor pergunta-me, em francês, claro, se eu sabia o que era ser pontual. A minha resposta foi “plus ou moins” que significa “mais ou menos” . De imediato o senhor levanta a sua voz e diz-me que não aceita aquela resposta. Tinha apenas de lhe dizer se sim ou se não. Ninguém sabe mais ou menos. Ou sabe, ou não sabe! Lembro-me que fiquei algo receosa. Pensei: Como é possível que me esteja a acontecer isto e ainda nem sequer comecei a trabalhar. E quem era afinal aquele senhor? Decidi então dizer-lhe que sim, que sabia o que era ser pontual. Ele questiona-me: Então o que é ser pontual? Eu respondi: É chegar a horas! Diz-me ele:

- Está completamente enganada e acho que estamos a começar muito mal…. Ser pontual, minha senhora, é chegar antes da hora para poder ir tomar o seu café, ir à casa de banho, ir arranjar-se, enfim, fazer o que quiser de modo a que à hora, aí sim, esteja no seu posto de trabalho a iniciar o seu dia. É para isso que lhe pago e não para chegar em cima da hora.

(CONTINUA)


Comentários

Mensagens populares deste blogue

A MINHA VIAGEM AO JAPÃO

Verdade, fui ao Japão. Verdade, aventurei-me a, depois de 2h30 de viagem para Lisboa, meter-me num outro avião para, durante 7h30, fazer Lisboa-Dubai, e ainda noutro para mais 9h30 até Tóquio. Ainda hoje me pergunto como me aventurei a tal, eu que me arrepio sempre que se fala em viagens de avião. Mas fi-lo e ainda bem!   O Japão nunca foi um país que me despertasse grande interesse, logo uma viagem que, não fosse a minha amiga Manuela, provavelmente não teria feito. Por diversas vezes já lhe agradeci e vou sempre agradecer-lhe ter-me ligado, naquele dia, a dizer-me “… vamos?” Mas, se nada é por acaso, é porque agora é que era a altura certa para a fazer, pois a idade já me permitiu uma plenitude que antes não alcançava. Já regressei há vários dias e ainda não “aterrei” no meu quotidiano. Continuo, a cada minuto, a visualizar imagens, paisagens, gestos e atitudes que me levam ao que, agora, considero um outro mundo. Um outro mundo em que é notório o respeito pelo outro, nomead...

A ARTE, A BELEZA E A GRATIDÃO

  Sou frequentadora assídua da Confeitaria Paulista na Maia, onde a D. Elvira e o Sr. Jorge Mendes (proprietários), fazem questão de nos receber de “braços abertos.” Tomo o meu café e pão com manteiga neste maravilhoso espaço. É um local muito familiar. Um espaço onde nos sentimos muito bem!!!  Somos bem recebidos; Bem tratados; Bem-vindos!!! Sentimo-nos em casa. A D. Elvira faz questão de nos fazer sentir únicos. Há uns dias, tive oportunidade de ver uma autêntica obra de arte saída das mãos do proprietário da Confeitaria Paulista. Trata-se da peça cuja fotografia está a ilustrar esta publicação. Ao ter acesso ao dito quadro, acreditem, que senti ARTE, que senti BELEZA e depois de saber a história que o envolve, senti que ali, existia GRATIDÃO.  Ora o Sr. Jorge Mendes, decidiu pôr mãos à obra e fazer este maravilhoso trabalho em pão. Sim, trata-se de pão e não outro material qualquer. Explicou-me as múltiplas e morosas voltas que este trabalho dá, até chegar ao resultado...

A LOUCURA DO MUNDO

  Tinha decidido que hoje escreveria de novo sobre a minha viagem ao Japão, e que vos contaria algumas peripécias dignas de registo humorístico, daquelas que sempre me acontecem e me divertem ao ponto de querer partilhar com outros, e porque me faz feliz. Faz-me feliz fazer aparecer um sorriso no rosto de quem lê os meus textos, um sorriso que muitas vezes anda escondido e tarda em aparecer. No entanto, nem sempre isso é possível, e hoje não pode ser assim. Hoje tenho de partilhar convosco a minha tristeza, a minha revolta, a minha frustração. Desculpem-me mas terá de ser assim. Logo pela manhã, como habitualmente, abri o rádio para me atualizar acerca do que se passa no nosso país e para além dele, e o que fui ouvindo fez-me decidir que não concluiria o meu texto nos termos em que tinha pensado. Não tinha esse direito perante o que estava a ouvir. Se o fizesse era como se também estivesse a assobiar para o lado perante o horror que me descreviam. Apesar de ser uma peça insignifica...