Como vos contei, em publicações anteriores, o meu tratamento quimioterapêutico começou no início de Outubro de 2019 e terminou em 12 de Março de 2020.
Este tratamento consistiu em dois tipos distintos de intervenção, um intravenoso de três em três semanas ao qual se seguia um período de duas semanas em que diariamente tomava 3 cápsulas de capecitabina de 500mg cada ao pequeno almoço e outras 3 ao jantar.
Antes de começar o tratamento confesso que tive receio, um receio que chegou a assumir contornos de autêntico pavor e que me custou algumas noites “em branco”. Este pavor aumentou quando, ao perguntar à médica o tempo de duração de cada uma das sessões intravenosas, recebi a informação que demorava cerca de 3 a 4 horas, dependendo da aceitação que o meu organismo manifestasse. Informaram-me que após o tratamento e nos dias seguintes evitasse beber água fria e que ao lavar as mãos usasse água tépida, evitasse conduzir, fizesse algum esforço por comer e que iria sentir formigueiro nos pés e mãos, principalmente no braço em que o cateter fosse colocado.
Na primeira sessão enchi-me de coragem, pensei que não era o primeiro nem seria o último a sofrer aquele tipo de tratamento e que precisava de passar pelas agruras da quimioterapia para melhorar.
Depois de uma noite sem dormir fiz a minha primeira sessão. Não demorou 3 ou 4 horas mas quase 6, porque além da inoculação do químico, o Oxali Platina, altamente tóxico, tinha um período inicial para preparação da veia e do organismo com a inoculação de outras drogas e outro período final para limpeza da veia. Este tratamento era tão forte que, mesmo com um intervalo de três semanas era necessário mudar de braço de um tratamento para outro.
Como sou um ileostomizado (uso temporariamente um saquinho para recolha das fezes) tive que, durante a sessão, ir duas vezes ao wc para esvaziar o saco. Era uma operação algo complicada porque as duas mãos são necessárias e numa delas tinha o cateter. Lá consegui!!!
Quando terminei a primeira sessão senti que tinha vencido. Assim passei todas as outras sessões. Basicamente de 3 em 3 semanas fazia uma análise ao sangue, a médica decidia se era necessário alterar a dose e assim fui continuando até que na antepenúltima soube que iria fazer uma TAC entre a penúltima e a última sessão no sentido de avaliar o meu estado e o resultado da quimioterapia.
Assim foi e, grata surpresa, fui dispensado de realizar a última sessão, embora a toma da capecitabina tenha continuado.
Foi-me marcada para o próximo dia 24 de Março uma colonoscopia para poderem realizar a intervenção cirúrgica de restabelecimento do trânsito intestinal (retirada do tal saquinho).
No dia 12 deste mês de Março, recebo um telefonema do hospital de S. João. O coronavírus tinha obrigado o SNS a uma dedicação quase exclusiva a esta epidemia. Além dos casos de coronavírus o SNS só se ocupa das urgências enquanto a situação não estiver resolvida.
Já pensava que em Maio estava tudo resolvido. Agora já não sei quando e o melhor é não fazer planos.
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