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INTERRUPÇÃO NÃO PROGRAMADA

A NOTÍCIA QUE NINGUÉM QUER OUVIR: A OPERAÇÃO (continuação)


Se há dias em que estamos apressados este era um deles e o elevador parece que fazia de propósito para me atrasar. Estava a parar em todos os pisos.
Finalmente cheguei ao piso onde tu estavas internado. A porta do elevador abre-se. Saio apressada. De repente a porta de outro elevador abre-se e sai uma cama, transportada por duas pessoas. Encosto-me para permitir que a manobra seja facilitada e qual não é o meu espanto, vejo que és tu que estás a chegar da sala de recobro. Que coincidência meu Deus! Olho para ti e vejo-te sereno. Conheces-me e sorris.
Dou-te a mão e acompanho-te. Não paro de te observar. Pareces-me muito sereno. Em contraste com toda esta situação, o teu transporte é feito de forma “pouco ortodoxa”. As rodas da tua cama estão com sérios problemas e a deslocação não decorre normalmente. Pedem-te desculpa pelo sucedido e brincam contigo, dizendo: “Então porque escolheu esta cama? Não podia ter escolhido outra melhor?”. Pela forma como olhas para a tua interlocutora, vejo que já não estás a achar graça nenhuma. O incómodo deve ser muito grande. Os safanões são constantes.
Finalmente estamos à porta da enfermaria. Pedem-me que aguarde cá fora pois vão ter de te instalar e ter determinados procedimentos complementares.
Passam alguns minutos. Já posso entrar. Estou ansiosa por falar contigo a sós e percecionar como estás.
Falas comigo com tranquilidade, dizes-me que não tens dores. Pareces-me bem. Aí ficámos, sempre a minha mão na tua e a minha atenção focada em ti e nalguma necessidade que viesses a ter.
A atenção do pessoal médico e paramédico é enorme para contigo. Sinto que estás em muito boas mãos.
De repente, pedes-me algo para comer. Dizes que já sentes vontade de comer alguma coisa. Afinal estavas sem nada no estômago desde a noite anterior.
Venho ter com a enfermeira que estás de serviço e dou-lhe conta da tua vontade. Sou informada que ela vai fazer a passagem de turno e que a colega seguinte já viria ter connosco.
Assim aconteceu 40 minutos depois. Senti que nem da tua parte, nem da parte da nova enfermeira tinha havido empatia.
Fomos informados que irias ter de fazer uma sessão de quimioterapia local e só após esta situação poderias lanchar qualquer coisa.
Esperamos mais um pouco, mas algo de menos bom estava para vir…
Continua

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