Avançar para o conteúdo principal

RESULTADO DUMA QUEDA... PARAGEM FORÇADA E OBRIGADA

A NOTÍCIA QUE NINGUÉM QUER OUVIR: OS TRATAMENTOS


Agora que estamos em casa, há que recomeçar. Vamos ter de aprender imensas coisas. Vamos ter de saber lidar com a tua doença, sempre focados na tua recuperação.
Vão iniciar-se 5 semanas de tratamentos. Serão tratamentos diários, com exceção dos fins de semana. Terás tratamentos de quimioterapia e de radioterapia.
Vejo-te otimista. Pareces-me decidido a lutar e a enfrentar todas estas questões e efeitos colaterais que terás não só ao longo destas 5 semanas, mas também durante mais algum tempo, embora nós não consigamos saber, exatamente quanto.
Começamos a instalar rotinas. Lemos e relemos os procedimentos. Tentamos fazer tudo de acordo com o que nos foi transmitido. Foco-me nas instruções que recebeste na consulta de Nutrição Oncológica. Pego no meu telemóvel e fotografo o tríptico que trazes com as coisas que podes e não podes comer. Queremos que passes por esta delicada fase, com a melhor qualidade de vida possível e que consigas o melhor resultado de todos que é a tua CURA!
Os dias vão passando e a tua tolerância e paciência, vão diminuindo.
Sei que certamente não te estará a passar pela cabeça o efeito que têm em mim algumas das palavras que dizes, nem das atitudes que começas a ter. Eu refugio-me, nem sei bem onde, nem como. Os meus olhos, humedecem com frequência, mas não deixo que as lágrimas me denunciem.
Pergunto a Deus porquê? Porquê tu, porquê eu, porquê este momento. A resposta não chega.
Aconselho-me com o “nosso” padre. Ponho-lhe exatamente algumas das questões que me atormentam e “bebo” as suas palavras. Quero muito encontrar uma justificação para tudo o que está a acontecer, mas, continuo sem resposta. Sou crente. Tenho fé em Deus e sei que quanto menos esperar, terei a resposta ou respostas que tanto procuro agora.
Tu lá vais fazendo a tua parte. Segues à risca os tratamentos, mas no que toca à alimentação aí, é que a porca torce o rabo… Tu começas a não ter vontade de comer. Dizes-me que a comida não tem sabor. Vejo que fazes um enorme esforço, mas não consegues. Eu com todas as restrições que tens, tento inventar receitas. Tento surpreender-te. Tento animar-te, pois tu necessitas de te alimentar para conseguires levar a cabo esta difícil fase. Aqui, não sou bem-sucedida. Quase que desespero!



continua...

Comentários

Mensagens populares deste blogue

QUANDO PERCEBES QUE NÃO HÁ VOLTA A DAR

 “A Sra. é tal e qual a minha avozinha. Ela não sai de casa sem os seus adereços. É uma querida, mas muito vaidosa”. É com esta frase que uma jovem técnica me presenteia, enquanto aguarda que eu conclua a tarefa desesperada de tirar os brincos e o colar, cujo fecho teima em não abrir. Eu, a paciente que irá fazer uma radiografia dentária. Ela, a técnica que a fará. Eu, uma mulher madura de 66 anos, convencida, até àquela hora, que em nada os aparentava. Ela uma jovem radiante nos seus 20 e poucos anos de idade. Avozinha? Eu, avozinha e mais ainda, vaidosa…   Reparem que não me comparou à sua avó. Fê-lo em relação à sua avozinha, o que para mim corresponde a bisavó.  Não faço qualquer comentário, mas lembro-me imediatamente do que brinquei com a minha amiga Fernanda, mais velha que eu 3 anos, quando me contou que, após completar os 65 anos de idade, tinha ido comprar o passe mensal para o comboio, e ao querer entregar o cartão de cidadão ao funcionário que a atendia, para que fizesse pr

MERCEDES?

Mercedes? No café em Lisboa, vejo uma senhora já com a sua idade que provavelmente se chama Mercedes, a tratar das cartas que lhe chegaram a casa ou não.  Ao mesmo tempo fuma um cigarro que colocou delicadamente no cinzeiro enquanto organiza as cartas, quiçá mais contas para pagar, outro corte na reforma. Talvez sejam as cartas de um neto emigrado a mandar beijinhos com carinho para não usar o WhatsApp. Acabou de arrumá-las e voltou a pegar no seu cigarro, marca Rothmans. Fuma-o e pensa. Será que pensa nas cartas? No calor que está? No tabaco que está caro? Ou estará a fazer uma retrospetiva da sua vida? Que Lisboa não é a mesma que conheceu; A pensar no seu primeiro amor; No sua avó, no seu avô;  no primeiro gira discos que comprou e que pagou 40 contos? no seu primeiro cigarro? Dá um gole na sua água e acende outro cigarro Rothmans. Estou numa mesa a menos de 3 metros desta senhora que não passa de uma suposição minha que se chama Mercedes. Será feliz? Devo admitir que tem muita clas

EU E OS MEUS TÉNIS PARA QUASE TODAS AS OCASIÕES

  Preciso de uns ténis para todas as ocasiões, ou quase todas, é um pensamento que me ocorre, especialmente quando, por não os ter, tenho de usar sapatos de salto, que me fazem sofrer horrores nas ocasiões que a isso obrigam. Tenho ténis de várias formas e cores, mas faltam-me os tais. Aqueles que vês nas páginas de publicidade das revistas de moda, e que pensas que, um dia, se puderes, os vais comprar. É então que na minha última viagem a Lisboa, passo por uma sapataria, e vejo em destaque, exatamente os ténis com que venho a sonhar desde há muito. Paro de imediato, e procuro ler o preço que está num talão muito pequenino, como que meio envergonhado, junto do artigo pelo qual já me apaixonei. Por este preço nem pensar, só se estivesse doida, penso eu, e sigo em frente, apesar de a algum custo. Nos dias seguintes e porque o trajeto me faz passar diariamente pela mesma sapataria, vou vendo que eles continuam no mesmo sítio. Lindos de morrer… penso eu todos os dias. Mas, por aquele preço