Venci. Venci a preguiça de sair. Fiz alguns quilómetros de carro e eis-me em frente ao mar imenso. Está revolto, barulhento mas belo como sempre. Está muito sol. Dentro de um bar todo envidraçado mesmo juntinho ao areal oiço o seu barulho e questiono se ele estará mesmo zangado. Se estará furioso com alguém ou desgostoso pela sua solidão. É a sua maneira de desabafar. Fala consigo próprio, não tem com quem falar. Acumula nas suas ondas o seu descontentamento por não ter com quem brincar. Não pode dizer vou ali e já venho. De facto ele vai. Vai mais acima no areal mas coitado está limitado. Por muito que queira não atinge ninguém. Mas também não há ninguém, ele está realmente só, entregue a si próprio. Aqui onde vejo e ouço o mar vejo também pessoas sentadas neste bar, aos pares. Ninguém está só. Só eu, este desgraçado. Sou desgraçado porque quero? Não creio. E será que sou mesmo um desgraçado? Acho que é um exagero utilizar esta palavra. Estou simplesmente a passar um mau momento.
O que já é hábito não causa surpresa... Curioso??